Contribuição à Geologia dos Derrames Basálticos do Sul do Brasil

Autores

  • Viktor Leinz Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Geologia e Paleontologia

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2526-3862.bffcluspgeologia.1949.121703

Resumo

O objetivo deste trabalho foi o estudo geológico dos fenôme¬ nos vulcanológicos ligados às efusivas (rético?) da bacia do Paraná. São fornecidos, principalmente, pormenores da área dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os resultados atingidos são os que seguem: 1. A idade das atividades vulcânicas está limitada entre o triássico superior e o cretáceo superior, possivelmente entre o rético e o jurássico. 2. A área ocupada pelas efusivas contínuas soma cerca de um milhão de quilômetros quadrados, da qual aproximadamente a metade está coberta por sedimentos mais modernos. 3. As espessuras foram observadas na orla oriental da bacia onde as efusivas formam escarpas pronunciadas. A espessura máxima, de 1.000 metros, encontra-se nas proximidades de Torres, Rio Grande do Sul. Ela decresce tanto para sul como para norte e, partindo desse ponto, atinge nos extremos norte e sul poucas dezenas de metros. O volume das efusivas, calculado com este último dado, é de 350 mil quilômetros cúbicos. (Fig. 2) 4. O lençol das efusivas é constituído de vários derrames sucessivos. Nos perfis mais completos foi possível a verificação de oito a treze corridas de lava, separadas por um hiato. Este é reconhecível pelas intercalações de pequenos bancos de arenito e, na sua falta, pelas texturas vesiculares e vítreas conjugadas com diaclases horizontais no topo e na base de cada derrame. As espessuras individuais variam desde poucos metros até 80 metros. {Figs. 1, 6, 7) 5. Os derrames ocorreram sobre planos praticamente horizontais e possuem mergulho de poucos metros por quilômetro, verificado por nivelamento de precisão. Observa-se, frequentemente, uma textura fluidal provocada pela orientação das vesículas nos basaltos. Medidas desta textura, em vários lugares, indicam dois sentidos da corrida de lava (Fig. 13). 6. Atividades explosivas do vulcanismo são raras vezes observadas e limitam-se a ocorrências locais dos próprios derrames. 7 Encontram-se, muito frequentemente, nas regiões adjacentes aos derrames, jazimentos intrusivos do vulcanismo sob a forma de sill e dique. Certos sills ocupam áreas de centenas de quilômetros quadrados e com espessura aproximada de 200 metros. (Fig. 14) As espessuras dos diques variam de poucos metros a dezenas de metros. O máximo da frequência de diques observa-se no sul do Estado de Santa Catarina, onde ocorrem 15 diques numa distância de 20 quilômetros. 8. A composição mineralógica e química do magma basáltico é homogênea, sendo constituída principalmente de plagioclásio (A n5o-7o)> augita e pigeonita. Contudo, foram encontradas efusivas mais ácidas, de tipo leidleito, no topo dos derrames. Os termos efusivos são caracterizados por uma textura basáltica rica em mesostasis vítrea, e os termos intrusivos se destacam pela textura ofítica. No perfil Três Forquilhas-Tainhas estudos pormenorizados mostraram a variação e o alto teor de material vítreo contido nos basaltos (Fig. 16). A tabela n.° 3 resume as análises químicas das efusivas bra¬sileiras até agora realizadas. Delas, 4 são novas. Pode-se notar a pequena variação na constituição, exceto nos leidleitos e a semelhança do magma basáltico do Brasil com os magmas de outros derrames gondwânicos. 9. Insignificantes são os fenômenos endo- e expoetamórficos. O embasamento arenítico pré-efusivo sofre apenas silicificação intersticial. Xenolitos são muito raros nos basaltos; um de granito, proveniente de, no mínimo 1.500 metros de profundida¬ de, apresenta apenas uma auréola de reação de um centímetro de espessura. Na zona de reação o plagioclásio transforma-se parcial¬ mente num esqueleto celular de vidro incolor (Fot. 9) 10. O embasamento das efusivas é constituído de arenitos eólicos triássicos, da formação “Botucatú” A posição do contacto entre este embasamento e a efusiva é dada na tabela n.° 1. O ponto mais baixo deste contacto acha-se perto de Torres, Rio Grande do Sul, e quase ao nível do m ar. Sobe bruscamente, rumo norte, para 650-750 metros e mantém-se quase neste nível até o Estado de São Paulo. De Torres para o sul o contacto sobe suavemente até atingir 270 metros em Sta. Maria (Fig. 2) 11. Foi observado um certo número de falhas diretas no embasamento, com rejeitos de até 30 metros (tabela n.° 5) As efusivas também possuem indícios de falhamento em forma de zonas milonitizadas. Destacam-se duas direções de perturbações: uma em volta de NNE e outra em volta de NW 12. É provável a existência de uma linha tectônica importante, entre Torres-Posadas, com base nas seguintes observações: os sedimentos glaciais (carboníferos?) denunciam ao sul desta linha uma erosão glacial intensa com pouca sedimentação e ao norte intensa sedimentação com invasão marinha. Falhamentos freqüentes do embasamento, nesta zona, antecederam as atividades magmáticas. Durante e depois do vulcanismo esta zona servia de “dobradiça” dos movimentos tectônicos que inclinaram o embasamento sedimentar no sentido convergente dessa faixa tectônica. As efusivas atingiram aqui sua espessura máxima, indicando uma das zonas do extravasamento magmático. Também o lombo sub¬ marino denominado “riograndense” liga-se a esta faixa. (Figs. 13, 17, 21) 13. A formação das escarpas morfológicas a partir das efu¬sivas poderia ter-se dado, para o caso do Rio Grande do Sul, por extravasamento magmático sucessivo de derrames do mesmo volume e viscosidade, confinando-se aproximadamente no mesmo lugar. Formou-se um pacote composto com términos mais ou menos abruptos. A erosão apenas remodelou a escarpa original, deixando-a retroceder 30 quilômetros no mínimo. Numerosos morros de testemunhos, na frente da escarpa, foram assim formados. O beirai abrupto da escarpa perto do oceano Atântico (Rio Grande do Sul) deve ter-se originado de falhamentos relativamente modernos, como indicam as falhas perto da lagoa dos Patos e a drenagem fluvial muito juvenil desta escarpa. 14. Concluimos que o magma subiu em estado de completa fusão, sem cristalização incipiente. Para explicar a causa da subida do magma recorremos à hipótese de Daly As causas diretas, extra e não intramagmáticas, relacionam-se com a abertura pri¬mária de fendas profundas. ! • A homogeneidade do magma indica sua proveniência do simar I ou melhor do salsima. A abertura das geoclases foi provocada por esforços tensionais e a relacionamos com os movimentos de deriva segundo Wegener Como indícios de regiões de extravasamento magmático consideramos os seguintes fatos: — espessuras maiores dos derrames perto dos focos e adelgaçamento centrífugo,. — ocorrências de sill, — falhamentos e diques, — texturas fluidais e inclinação das soleiras dos derrames. 1 Estes indícios ocorrem conjuntamente na faixa tectônica Torres-Posadas, de onde se derramou a lava rumo sul e norte num per- ; curso de, aproximadamente, 100 quilômetros. Acreditamos na exisítência de outras zonas produtoras. Duas faixas localizam-se na | região do atual vale do Uruguai e na margem oriental da escarpa I em São Paulo. Existem assim zonas produtoras transversais (Torres-Posadas), longitudinais (Uruguai) e marginais (São Paulo), ao eixo da bacia do Paraná (Fig. 1 )

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Publicado

1949-12-01

Edição

Seção

não definida

Como Citar

Contribuição à Geologia dos Derrames Basálticos do Sul do Brasil. (1949). Boletim Da Faculdade De Filosofia Ciências E Letras, Universidade De São Paulo. Geologia, 5, 1-59. https://doi.org/10.11606/issn.2526-3862.bffcluspgeologia.1949.121703