Da ilusão transcendental à ilusão antropológica: Foucault em defesa de Kant

Autores

  • Carolina de Souza Noto Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v1i18p73-88

Palavras-chave:

homem – empírico – transcendental – ilusão.

Resumo

O presente artigo procura lançar luz sobre a figura do homem moderno enquanto um duplo empírico transcendental, tal como a caracteriza Michel Foucault, principalmente em As palavras e as coisas e na introdução à Antropologia de um ponto de vista pragmáticode Kant. Segundo Foucault, nossa modernidade é marcada pela descoberta kantiana do transcendental. Desde então, o homem pode ser pensado tanto empiricamente quanto transcendentalmente; tanto em suas determinações empíricas quanto em suas condições de possibilidade. A diferença entre empírico e transcendental que, em Kant, designa duas maneiras possíveis de pensar o homem sofrerá, contudo, uma inflexão, e passará a designar uma diferença ontológica no interior do próprio homem. A nova figura do homem como duplo empírico transcendental será fruto, portanto, de uma confusão entre aquilo que é da ordem do empírico e aquilo que é da ordem do transcendental. Tal confusão será denominada por Foucault de ilusão antropológica e deverá ser compreendida como uma nova interpretação e uma repetição da ilusão transcendental apontada por Kant na Crítica da razão pura. Assim, se a ilusão transcendental consistia numa transgressão natural da razão para além dos limites da experiência, a ilusão antropológica consistirá numa transgressão do alerta kantiano acerca da distinção entre empírico e transcendental, uma vez que pretenderá conhecer positivamente a finitude que está na origem da ilusão transcendental.

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Referências

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits vol II. Paris: Gallimard, 2004.

FOUCAULT, Michel. “Introduction à l’Antropologie”. In: KANT, Emannuel. Anthropologie d’un point de vue pragmatique. Paris: Vrin, 2008.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

KANT, Immanuel. Antropologia de um ponto de vista pragmático. São Paulo: Iluminuras, 2006.

LEBRUN, Gèrard. “Transgredir a finitude”. In: LEBRUN, Gèrard. A filosofia e sua história. São Paulo: Cosac Naify, 2006

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Publicado

2011-06-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Noto, C. de S. (2011). Da ilusão transcendental à ilusão antropológica: Foucault em defesa de Kant. Cadernos De Ética E Filosofia Política, 1(18), 73-88. https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v1i18p73-88