A patologização do jovem autor de ato infracional e a emergência de "novos" manicômios judiciários

Autores

  • Maria Cristina G. Vicentin Pontifícia Universidade Católica de São PauloP; Programa de de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social
  • Gabriela Gramkow Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia; Programa de Psicologia Clínica
  • Miriam Debieux Rosa Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia; Programa de Psicologia Clínica

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.19944

Palavras-chave:

periculosidade, adolescente autor de ato infracional, transtorno de personalidade anti-social, criminalidade juvenil

Resumo

Este texto aborda os crescentes processos de psiquiatrização dirigidos a jovens autores de ato infracional, especialmente no estado de São Paulo, que culminam com a construção de uma Unidade Experimental de Saúde, num convênio entre as Secretarias da Saúde, Justiça e Administração Penitenciária, destinada a oferecer atendimento para autores de ato infracional portadores de diagnóstico de transtorno de personalidade e/ou de periculosidade, durante o cumprimento de medida sócio-educativa de internação em regime de contenção. Analisam-se algumas das linhas de força que derivam nessa construção, em particular a renovada utilização da noção de periculosidade que passa a adquirir conotações que facilitam a extensão e difusão do seu uso, cada vez mais subordinado às exigências de "defesa social". Sinaliza-se como essa composição do ato infracional com o transtorno mental vem construindo argumentos tanto para modificações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) quanto para a produção de práticas dirigidas ao autor de ato infracional que são frontalmente contrárias aos paradigmas do ECA e às da atual política nacional em Saúde Mental. Finalmente, o texto propõe, na perspectiva da Reforma em Saúde Mental, algumas possibilidades de um pensar e agir diferentemente, problematizando as diretrizes terapêuticas atreladas a uma lógica individualista, sugerindo a necessidade de ampliar o olhar e a ação para a complexa e muitas vezes restrita trama na qual esses jovens se inserem socialmente, apostando no exercício clínico na sua dimensão ética e não como lugar de controle, tutela ou disciplinarização da vida.

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Publicado

2010-04-01

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