Brincadeiras de crianças brasileiras e portuguesas no contexto escolar

Autores

  • Sheila Tatiana Duarte Cordazzo Universidade Federal de Santa Catarina; Centro de Filosofia e Ciências Humanas; Departamento de Psicologia; Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil
  • Mauro Luís Vieira Universidade Federal de Santa Catarina; Centro de Filosofia e Ciências Humanas; Departamento de Psicologia; Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil
  • Ana Maria Tomás Almeida Universidade do Minho; Instituto de Estudos da Criança

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.20051

Palavras-chave:

brincar, crianças, psicologia transcultural, desenvolvimento

Resumo

OBJETIVO: comparar as brincadeiras de crianças em idade escolar em amostras de dois países diferentes (Brasil e Portugal). MÉTODO: em cada país 11 crianças participaram do estudo. As crianças freqüentavam o segundo ano do ensino fundamental. As observações foram realizadas dentro do contexto escolar, em uma sala que continha brinquedos. Para registrar os comportamentos das crianças foram utilizadas as técnicas de observação do sujeito focal e amostragem de tempo. RESULTADOS: nas duas amostras foram encontrados resultados similares quanto aos tipos de interação social e escolha de brinquedos e brincadeiras. Quanto à interação social, as crianças preferiam brincar em díades. Os meninos mostraram uma tendência maior do que as meninas para a segregação por sexos em suas atividades. Os tipos de brinquedos mais usados pelas crianças foram os da categoria motora, seguidos pelos cognitivos. Os brinquedos didáticos foram os menos utilizados. A brincadeira proposta pelo objeto foi a atividade mais observada pelos pesquisadores. Contudo, quando as crianças não estavam seguindo a proposta dos objetos, foram encontrados diferentes resultados nas amostras. As crianças brasileiras preferiam os jogos de regras, enquanto que as portuguesas preferiam as brincadeiras de faz-de-conta. Nos dois países os meninos preferiram brincadeiras turbulentas mais do que as meninas. Quando as crianças brasileiras não estavam brincando, elas prefe-riam atividades de conversação, enquanto que as crianças portuguesas atividades de observação. CONCLUSÃO: as similaridades encontradas nas duas amostras sugerem aspectos comuns do comportamento de brincar, enquanto que as diferenças apontam para as particularidades de cada contexto sócio-cultural.

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Publicado

2012-04-01

Edição

Seção

Pesquisa Original