Afrodite da aurora: herança indoeuropéia nos epítetos divinos e teônimos gregos

Resumo

§1. Afrodite, originalmente um epíteto do PIE *h₂éu̯sōs, incorporou inúmeros aspectos da deusa da aurora. À maneira da Uṣas védica, é a “filha do céu”, relacionada à calmaria do mar (γαλήνη) e à salvadora dos marinheiros, função exercida pelos pretendentes de Uṣas na mitologia védica. Seu nome pode derivar de *abʰro-dih₂-to- “brilhando a partir da névoa, ou espuma”. § 2.1 Os epítetos de Afrodite derivados de nome de cor, ou que o incluem (χρυσής, χρυσοστέφανος, etc.), talvez se refiram ao caráter original da deusa como personificação da aurora. § 2.2 Sua relação com carruagens, como se vê, p. ex., em χρυσάνιος, talvez derive da associação da deusa com a carruagem do sol, o que poderia também ser o caso de χρυσόθρονος. § 2.3 O uso de λευκός em conexão com Afrodite pode ser comparado com o véd. rocamāna-, que se diz de Uṣas. § 2.4 Seu epíteto Ἀργυννίς corresponde ao véd. arjunī-. § 2.5 Afrodite ῥοδέη e ῥοδόχρους corresponde a Eos ῥοδοδάκτυλος. § 3. A figura védica das “vacas da aurora” pode ser comparada com a das vacas de Hélio em Trinácia. Os epítetos épicos ἕλιξ e ἑλικοβλέφαρος talvez se refiram ao movimento celeste. § 4. A Afrodite Ὀρθροῦ da inscrição pode ser a aurora ou a estrela da manhã, como filha da alvorada, e pode equiparar-se ao Ὀρθρία do frg. 1 de Álcman e a um enigma de Teógnis (vv. 861-4). O Ἐρίβοια atestado junto a Afrodite Ὀρθροῦ pode ser entendido como “rica em vacas da aurora”.