Notas sobre a ocupação das encostas no maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro

Autores

  • Monica Bahia Schlee Prefeitura do Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Urbanismo.

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v22i38p94-122

Palavras-chave:

Paisagem. Morfologia da paisagem. Ocupação de encostas urbanas. Legislação. Padrões morfológicos. Espaços livres.

Resumo

As montanhas estruturam a paisagem da cidade do Rio de Janeiro e servem de suporte para a floresta Atlântica e para a mancha urbana ao seu redor, que avança gradativamente sobre ela. O presente artigo analisa o processo de ocupação urbana nas encostas da cidade do Rio de Janeiro, a partir de uma leitura comparativa da morfologia da paisagem, com foco no Maciço da Tijuca, cujas encostas vivenciam uma constante pressão urbana decorrente da valorização imobiliária e das disputas territoriais nas bordas da floresta Atlântica. Este artigo tem como objetivo caracterizar os padrões de ocupação encontrados nas encostas da cidade, e do Maciço da Tijuca, em particular e apontar os efeitos da legislação urbanística local sobre a paisagem, relacionando-os aos processos de apropriação territorial. A zona de fronteira entre a floresta Atlântica e a malha urbana nas encostas do Rio de Janeiro caracteriza-se como uma zona de transição, heterogênea, instável e dinâmica, onde é possível discernir diferentes faixas de ocupação, cujas lógicas internas de estruturação afetam a configuração das demais. Essas faixas conformam um gradiente de ocupação, onde as faixas internas (faixas de mescla) são as que sofrem transformações mais dinâmicas, afetando e impactando as externas. Nestas faixas de mescla se localiza uma constelação de núcleos de ocupação habitados por diferentes extratos sociais, com características formais e informais, isto é, regulares e irregulares do ponto de vista urbanístico e fundiário, que estabelecem entre si uma relação imbricada de contiguidade e complementaridade. Este quadro demonstra que o planejamento urbano, a gestão e a lógica da ocupação urbana nas encostas cariocas necessitam passar por um processo de ajuste, em direção a um urbanismo regenerador, no qual os espaços livres exerçam um papel estruturador na conexão, articulação e na resiliência da paisagem frente aos riscos geológicos e na mitigação da antítese entre a floresta, os territórios formalmente ocupados e as favelas. 

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Biografia do Autor

  • Monica Bahia Schlee, Prefeitura do Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Urbanismo.

    Arquiteta-paisagista e urbanista da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro – CMP/SMU/PCRJ. Doutora em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Arquitetura da Paisagem – Pennsylvania State University/USA e mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).

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Publicado

2015-12-18

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Schlee, M. B. (2015). Notas sobre a ocupação das encostas no maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro. PosFAUUSP, 22(38), 94-122. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v22i38p94-122