O ajuste urbano: as políticas do Banco Mundial e do BID para as cidades
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v0i20p60-75Palavras-chave:
Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, política urbana e habitacional, financiamento público, gestão pública, reforma do Estado, ajuste estruturalResumo
Ao ajuste estrutural que se seguiu à crise da dívida no Terceiro Mundo, no início dos anos 80 - e ainda persiste como um ajuste permanente -, parece ter ocorrido um correspondente" ajuste urbano". Em ambos os casos, o Banco Mundial e, na América Latina, o BID, tiveram ação decisiva, em parceria com as elites e tecnocracias locais. As estratégias de ação dessas duas instituições financeiras, apesar de sua forte interferência nas políticas públicas dos países em desenvolvimento, constituem um tema novo e ainda pouco abordado pela pesquisa acadêmica. Em nosso caso, o objetivo foi desvendar o modelo de cidade que tem sido por elas defendido e qual seu significado. Na dissertação que realizei pela FAUUSP, constatei que os empréstimos do Banco Mundial e do BID - que aparecem aos gestores públicos como" tábuas de salvação" em tempos de crise -, não são" neutros" e carregam consigo uma agenda afirmativa: pretendem modelar um determinado padrão de uso do recurso público e de organização do Estado. As duas instituições difundem políticas públicas que seguem critérios empresariais de rentabilidade e um modelo de gestão estatal terceirizada, à mercê de um corpo técnico privado - formado por gerenciadoras de projeto, fundações privadas, ONGs e inúmeros consultores. Seu objetivo é transformar uma parcela dos governos locais nos países em desenvolvimento, especialmente os que administram os territórios que dão suporte aos negócios transnacionais, em estruturas administrativas treinadas para responder aos grandes interesses privados, ao mesmo tempo em que se desembaraçam de qualquer compromisso com a democracia real.Downloads
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