Bratke e o projeto civilizatório da Icomi

Autores

  • Telma de Barros Correia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v19i31p132-145

Palavras-chave:

Urbanismo moderno. Núcleo fabril. Habitação operária. Gestão do trabalho. Disciplina. Oswaldo Bratke. Serra do Navio. Vila Amazonas.

Resumo

O artigo discute a filiação das soluções projetuais utilizadas por Oswaldo Bratke, nos projetos para Serra do Navio e Vila Amazonas, contratados pela Icomi na década de 1950, os quais se notabilizaram pelos estudos cuidadosos e soluções eficientes relativas a conforto. Sem querer negar os aspectos inovadores presentes nesses projetos, este artigo volta-se à análise da filiação das soluções de projeto e de gestão dos núcleos residenciais concebidos por Bratke, sublinhando como algumas delas mostram-se intimamente vinculadas a procedimentos usuais na história de núcleos fabris, os quais se revelam restritivos quanto à autonomia de seus moradores. Entende-se que, se o projeto de Bratke revela-se inovador na busca de soluções projetuais coerentes com o clima e as especificidades locais, ele se mostra extremamente conservador com relação à concepção geral do núcleo. Sob o último aspecto, incorporou uma rígida divisão social do espaço, adotou estratégias de desenho visando promover segregação dos solteiros e evitar as concentrações dos moradores nos espaços públicos, sugeriu providências de gestão voltadas ao controle do tempo livre e ao combate ao ócio dos moradores (via promoção de concursos referentes à conservação de casas e jardins, do incentivo ao cultivo de hortas nos quintais, etc.). Serra do Navio, particularmente, foi concebida como uma comunidade isolada, na qual se deveria evitar o contato com “estranhos”. Em seus escritos sobre os dois projetos, Bratke revela simpatia pela rigorosa disciplina comum em assentamentos desse tipo, recomendando apenas que a empresa exerça seus controles de forma discreta. Tal postura, aliada aos procedimentos de projeto e gestão propostos por Bratke, ampara-se, no discurso do projetista, na aposta em uma ação civilizatória na selva, por ele atribuída à Icomi, fundamentada em uma noção de “cidade” como local limpo, disciplinado e seguro.

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Biografia do Autor

  • Telma de Barros Correia, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP
    Arquiteta e urbanista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestre em Desenvolvimento Urbano pela UFPE, doutora FAUUSP e livre-docente pela Universidade de São Paulo. É professora e pesquisadora no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (até 2010 Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos), onde ministra disciplinas na área de teoria e história da arquitetura e do urbanismo e realiza pesquisas em história do urbanismo, da arquitetura, da habitação e da urbanização no Brasil, com ênfase na história das vilas operárias, núcleos fabris e conjuntos residenciais criados por empresas para seus empregados no Brasil, durante os séculos 19 e 20. É autora dos livros Pedra: plano e cotidiano operário na sertão (Papirus, 1998) e A construção do habitat moderno no Brasil – 1870-1950 (Fapesp/Rima, 2004) e organizadora da obra Philip Gunn: debates e proposições em arquitetura, urbanismo e território na era industrial (Fapesp/Annablume, 2009) e do livro intitulado Forma urbana e arquitetura de vilas operárias e núcleos residenciais de empresas no Brasil (Fapesp/Annablume, 2011). Instituto de Arquitetura e Urbanismo – IAU-USP

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Publicado

2012-06-20

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Correia, T. de B. (2012). Bratke e o projeto civilizatório da Icomi. PosFAUUSP, 19(31), 132-145. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v19i31p132-145