Entre o subsídio e a subversão: negociações e disputas ao redor dos "batuques" e das "danças nativas" no Sul de Moçambique (1900-1950)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2019.142351Palavras-chave:
Sul de Moçambique, música, dança, espetacularização, colonialismoResumo
Ao longo da primeira metade do século XX, o linguajar colonial português unificou diferentes práticas musicais e dançantes das populações do sul de Moçambique no termo batuque. Por um lado, o artigo pretende analisar os processos de transformação dessas práticas no contexto de colonização portuguesa, promovedor de uma homogeneização e espetacularização das diversidades socioculturais existentes naquela região, incorporando-as à retórica da dominação. Por outro lado, acompanhar as entrelinhas das apresentações dos “batuques” e das “danças nativas” para um público não praticante revela traços de uma multifacetada experiência das populações sul-moçambicanas colonizadas que, por meio de suas ações, produziram incontáveis e inesperadas reinterpretações e ressignificações de suas próprias práticas e experiências.
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