CULTURAS CROMOGÊNICAS ISOLADAS DE LEPROMAS MURINO E HUMANO

Autores

  • J. M. Gomes
  • Lindolfo A. de Souza

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v3i1p3-28

Resumo

Os AA. apresentam o resultado de mais de 10 anos de pesquisas, durante os quais, partindo de lepromas murinos e humanos, conseguiram, uma e muitas vêzes, isolar sempre o mesmo tipo de culturas cromogênicas, com bacilos a.a.r. Os meios nutritivos usados foram: gelose glicerinada a 5%, Petragnani e caldo glicerinado a 5%.As primeiras culturas obtidas discrepavam inteiramente do aspecto já conhecido e consagrado, das bactérias ácido-resistentes. Eram lisas, úmidas, de côr ocre ou salmão, e os germes, de extenso polimorfismo, em sua maior parte, a.s. Tomando como norma nada desprezar de tudo o que se lhes apresentava, chegaram, por fim, a obter culturas cromogênicas típicas, constituídas, exclusivamente,de coco-bacilos a.r. O microrganismo apresenta-se, pois, nos meios artificiais, sob dois aspectos culturais distintos: 1º) culturas lisas, úmidas, de côr ocre ou salmão; 2º) e em seguida, culturas amarelas, sêcas e granulosas.No decurso de sua longa observação, três fatôres se lhes antolharam de capital importância: 1º) envelhecimento do leproma, englobado, estéril, em parafina e conservado na geladeira; 2º) secamento de uma alça da cultura lisa, diluindo-a depois em água destilada, onde deve permanecer, na estufa, 24 ou 48 horas, semeando, então, em Petragnani. Por meio dêstes processos de violência, comparáveis aos que se empregam para a obtenção de ascas, em certos fungos, formam-se, em grande abundância, órgãos a que denominaram "corpos fungiformes", intensamente s.r., cheios de corpúsculos ou mesmo bacilos, que vão sendo projetados em tôrno da membrana. Este processo de multiplicação vai assim aumentando o número de microrganismos a. r.; 3.º) o tempo, mediante o quaL pela exaustão do meio nutritivo, os germes a.s. perecem, ficando apenas os de maior capacidade de adaptação os b.a.r.Este processo de seleção natural necessita de alguns meses --- de 4 a 7 a partir da primeira semeadura. Mostram, depois, que as "globias" de Marchoux ·--- que dizem deverem ser diferençadas dos "globis" de Neisser - não são outra coisa senão os "corpos fungiformes", como se encontram nas culturas. Nas colônias lisas, com germes na maior parte a.s., é natural êste recurso de multiplicação; mas, se se quiser forçar sua transformação em microrganismos a.r., ter-se-á de submeter a cultura à violência e inanição, a fim de que, lançada em meio nutritivo rico, se desenvolvam os "corpos fungiformes". Sua multiplicação depende, pois, do sofrimento, seguido logo das facilidades do meio. No organismo humano ou animal sua presença também se verifica na fase do estado da leprose, em que se observa tolerância absoluta ao parasitismo (comparável às facilidades do meio de Petragnani), isto é, uma situação anérgica. Na primeira fase, em luta para a adaptação, os germes são esparsos (multiplicação por cissiparidade) ; na última fase, em luta com os anticorpos específicos, também são germes esparsos, e só retornam, ocasionalmente, às "globias", sob o império de outras condições infecciosas ou estado hiponutritivo. Aceitando nos M. de Hansen e de Stefansky extensa vida ciclogênica (Rev. Med. Brasil., 9:159-168, agôsto, 1940), traçam-lhes duas fases distintas, como parasitas: 1ª) fase evolutiva, na qual admitem: forma infra-microbiana, b.a.r homogêneo, b.a.r. granuloso, granulações a.r., poeiras a.r.; 2ª) fase involutiva: infra-microbiana, b.a.r. homogêneo, b.a.r. fragmentado, b.a.s., granulações a.s .....destruição. O tratamento pelas sulfonas veio revelar outros tipos de involução: granulações a.r. ou a.s. grandes, maiores do que um estafilococo, bacilos a.s. grandes, encurvados, vacuolados, em clava etc. Quanto às granulações escuras, que aparecem no curso da infecção ou do tratamento, contràriamente ao que afirmam muitos autores, acham que são formas de resistência. Em relação à morfologia dos germes nos meios de cultura, os autores descrevem as seguintes formas: a) b.a.r., crescidos à custa dos destroços dos tecidos humano ou animal;b) b.a.s., pequenos ou grandes; c) formação de "corpos fungiformes" a.s.; d) corpúsculos a.s.; alguns a.r. ou com núcleo a.r.; e) b.a.s. finos e curtos; b.a.r. em pequeno número; os mesmos corpúsculos a.s. e a.r., na maior parte, com núcleo a.r. E a cultura, úmida, pastosa, cai .em ponto morto, sem o aspecto das culturas de bactérias ácido-resistentes. Submetida, então, a secamento, é observado o seguinte:f) grande número de "corpos fungiformes" a.r.; g) corpúsculos e bacilos a.r., misturados a corpúsculos e bacilos a.s. Novo ponto morto é observado. Insistindo-se em novos secamentos, apressa-se a estabilização da cultura, mas é o tempo - 4, 5, 6 ou· 7 meses - que vai resolver a situação. Nesse interregno, o meio de cultura fica quase ressequido. Perecem todos os germes ácido-sensíveis e, transplantado o material para Petragnani, observa-se o seguinte:h) aparecem, por fim, colônias secas e granulosas, constituídas, exclusivamente, por coco-bacilos ácido-resistentes, e o meio de Petragnani,com verde malaquita, que antes descorava, conserva sua côr. Desde então, a cultura se estabiliza e oferece o aspecto #pico, sêco e granuloso, das colônias das outras bactérias ácido-resistentes. A conservação da colônia lisa, por vários meses, no caldo ·glicerinado a 5%, dá os mesmos resultados do envelhecimento no meio sólido, porque as substâncias tóxicas elaboradas pelo microrganismo, acabam tornando-o impróprio à vegetação e só as formas resistentes (granulações escuras) sobrevivem.

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Publicado

1949-06-01

Edição

Seção

Não Definida

Como Citar

CULTURAS CROMOGÊNICAS ISOLADAS DE LEPROMAS MURINO E HUMANO. (1949). Arquivos Da Faculdade De Higiene E Saúde Pública Da Universidade De São Paulo, 3(1), 3-28. https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v3i1p3-28