Chamada especial para seção Quimeras

2023-03-22

O trabalho etnográfico e o Fazer Ver na Antropologia 

 Como as imagens propiciam ou auxiliam o trabalho etnográfico? A antropologia tem construído cada vez mais diálogo com as imagens, visualidades ou estratégias para ‘fazer ver’ o trabalho etnográfico e os produtos que dele emergem. Tanto em obras clássicas como “Os Nuer” ou “Os argonautas do pacífico”, quanto em trabalhos bastante recentes (Azevedo, 2016; Santos, 2022), podemos ver diferentes estratégias para tornar evidentes conceitos nativos. Sejam nos desenhos dos gados e esquemas sobre os sistemas políticos nuer de Edward Evans-Pritchard; ou nas imagens de tendas e dos próprios trobriandeses e nos mapas das ilhas do pacífico apresentados por Bronislaw Malinowski ou ainda nos desenhos autorais e grafias contracoloniais propostos por Ana Clara Santos Damásio, podemos ver recursos antropológicos que vão além das palavras.
No que se refere ao uso de desenhos na disciplina antropológica, os já clássicos trabalhos de Michel Taussig (2009, 2011) evidenciam as experimentações sobre o próprio trabalho etnográfico e o uso de cadernos durante o campo enquanto uma ferramenta criativa. O desenho de caráter antropológico e etnográfico, vale destacar, compõe uma figuração que se distingue das ilustrações científicas, arqueológicas, artísticas e arquitetônicas – esse tipo específico de desenho ocupa um lugar híbrido que conecta os objetos de investigação e os espaços onde investigador e objeto se cruzaram (Cabau, 2016). Os debates sobre os usos e potencialidades do desenho no fazer etnográfico juntam-se a reflexões mais amplas sobre o que podem as imagens em termos estéticos, éticos e políticos (Sontag, 1979, Ingold, 2011, Didi-Huberman 2012). Juntam-se também à interessante proposição de Alfred Gell (2020) sobre o rendimento analítico das imagens diagramáticas.
Tratadas como um lugar de convergência de processos e relações sociais, os diagramas destacam a importância dos esquemas de pensamento no procedimento de produção de conhecimento na Antropologia (Gell. 2020). Esse breve conjunto de reflexões nos incita a pensar que, para além da escrita, há a possibilidade de uma etnografia contemporânea que seja materializada pelas visualidades e pelos recursos imagéticos. Sendo assim, esta chamada da Seção Quimeras da Revista Cadernos de Campo (USP) espera receber propostas de contribuição que dialoguem com o fazer ver na Antropologia. 

Serão aceitos conjuntos de desenhos etnográficos, fotografias, colagens, esquemas de pensamentos materializados em roteiros imagéticos, mapas mentais, riscos e rabiscos produzidos em campo ou no decorrer das pesquisas. Os materiais visuais, idealmente, devem se debruçar sobre os desafios do trabalho etnográfico e esboçar processos de feitura e a dialética do fazer com/ aprender com (Ingold, 2015)

 

Organizadores

 

Gabriela Lages Gonçalves (Doutoranda em Antropologia Social - PPGAS USP e pesquisadora do Coletivo ASA - Artes, Saberes e Antropologia). Email: gabylages12@usp.br

Joaquim Pereira de Almeida Neto (Doutorando em Antropologia Social - PPGAS USP e pesquisador do Coletivo ASA - Artes, Saberes e Antropologia). Email: joaquim.almeidaneto@usp.br

 

Mais informações sobre a seção Quimeras podem ser encontradas nas normas de submissão em nosso site: https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/normas.