O “Homo Sacer” ou as “Cifras Ocultas” de Auschwitz: o Holocausto na obra de Giorgio Agamben e Moishe Postone
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-8051.cllh.2024.220507Palavras-chave:
Homo Sacer, Tanatopolítica, Vida nua, Anticapitalismo romântico, Dominação abstrataResumo
Apresentado no I Congresso Internacional de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo.
As interpretações sobre o Holocausto são diversas. Sem dúvida, uma das leituras mais polêmicas a respeito desse fenômeno trata-se da obra “O que resta de Auschwitz”, de Giorgio Agamben. Para o filósofo italiano, o uso do termo “holocausto” para se referir ao morticínio em massa de seis milhões de judeus atribui um sentido teológico e sacrificial para um massacre sem sentido. Apoiando-se nas noções de tanatopolítica, do genocídio como gestão da vida nua e da forma política do campo de concentração como paradigma da modernidade, o autor busca contestar a atribuição de sentido sacrificial ao Holocausto e defende, por sua vez, a acepção do genocídio dos judeus como morticínio em massa do Homo Sacer. Este breve ensaio tem como objetivo apresentar as ideias de Agamben e contrapô-las à interpretação diversa do historiador Moishe Postone, para quem o significado do Holocausto só pode ser compreendido através de uma leitura crítica da economia política, oferecendo uma interpretação do fenômeno da ideologia e regime político nazista como forma acabada de fetichismo da mercadoria, apresentando o nazismo como forma reacionária de anticapitalismo romântico, que opera uma projeção das características mais abstratas do capitalismo sobre o povo judeu como personificações do valor e da modernidade capitalista e que visou expurgar o lado abstrato do capitalismo através do genocídio judaico, dos judeus como cifras ocultas, personificações da dominação abstrata do capital. O artigo propõe um exame das duas interpretações, a filosófico-política de Agamben, e a histórico-crítica de Postone, a fim de observar suas convergências e rupturas.
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