Pronunciar o nome Literatura: a estranheza da latinidade
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i35p8-24Palavras-chave:
literatura, latinidade, estranho, desconstrução, pós-autonomiaResumo
Ao longo da tradição ocidental, a “estranheza” foi, desde Chklóvski e do formalismo russo até Derrida, uma das caracterizações de literatura. Em Demorar, o filósofo diz que “literatura” é um nome e que pertence a uma língua: “Literatura é uma palavra latina”. Mas esse pertencimento é problematizado. Se, para os formalistas e herdeiros do formalismo, o “estranhamento”, como modalizador para pensar a literatura, esteve a serviço de uma autonomia, a pergunta que Derrida nos move a fazer é “existe alguma coisa não europeia nessa estranha instituição chamada literatura?”. Com as recentes noções de “heteronomia”, de Florencia Garramuño, e de “pós-autonomia”, de Josefina Ludmer, a estranheza se passa por uma latinidade que não assegura uma autonomia. Interrogando, ainda, o que é estranho à latinidade, o termo “oralitura”, de Leda Maria Martins, tensiona outros modos de nomear. O objetivo deste ensaio é pensar como esse vínculo entre literatura e latinidade, pelo operador da estranheza, relê e transforma o paradigma europeu colonial de literatura, em que a estranheza da latinidade, ao contrário de atestar uma autonomia, dá testemunho de uma não-pertença e de uma invenção de um comum que se passa pela perda da superioridade tradicionalmente atribuída ao literário.
Downloads
Referências
BARTHES, Roland. Aula (1977). Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2013.
DERRIDA, Jacques. Demorar: Maurice Blanchot (1995). Tradução de Carla Rodrigues e Flavia Trocoli. Santa Catarina: Editora UFSC, 2015.
DERRIDA, Jacques. Esporas: os estilos de Nietzsche (1978). Tradução de Rafael Haddock-Lobo e Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: NAU, 2013.
DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: Uma entrevista com Jacques Derrida (1992). Tradução de Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
EAGLETON, Terry. “O que é literatura?” (1985). In: EAGLETON, T. Teoria da Literatura, São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FOUCAULT, Michel. “Linguagem e literatura” (1964). In: MACHADO, Roberto. Foucault, a filosofia e a literatura, Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
GARRAMUÑO, Florencia. A experiencia opaca: literatura e desencanto. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2009.
GARRAMUÑO, Florencia. Mundos en común: Ensayos sobre la inespecificidad en el arte. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2015.
KAMENSZAIN, Tamara. Una intimidad inofensiva: los que escriben con lo que hay. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2016. Edição Kindle.
LACAN, Jacques. “Lituraterra” (1971). In: JACQUES, L. Outros Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
LOPES, Silvina. Literatura, defesa do atrito (2003). Belo Horizonte: Chão da Feira, 2012.
LUDMER, Josefina. “Elogio da má literatura”, entrevista com Flavia Costa. In: Intervenções críticas: Josefina Ludmer, Rio de Janeiro: Circuito; Azougue, 2014.
LUDMER, Josefina. “Literaturas pós-autônomas”. Ciberletras, n. 17, jul. 2007.
LUDMER, Josefina. “O que vem depois” (2011). In: BRANCO, S.; TROCOLI, F.; PUCHEU, A. (orgs.). Teoria Literária e suas fronteiras. Rio de Janeiro: Azougue, 2014.
LUDMER, Josefina. Aquí América Latina: Una especulación. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2010 [Aqui América Latina: Uma especulação. Tradução de Rômulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013].
MARTINS, Leda Maria. “Performances da oralitura: corpo, lugar da memória”. Letras, [S. l.], n. 26, p. 63–81, 2003. DOI: 10.5902/2176148511881. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11881. Acesso em: 7 abr. 2023.
MOLINA, D. G. “Arte como procedimento”, de Viktor Chklóvski. RUS (São Paulo), [S. l.], v. 10, n. 14, p. 153-176, 2019. DOI: 10.11606/issn.2317-4765.rus.2019.153989. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rus/article/view/153989. Acesso em: 7 abr. 2023.
NETO, João Cabral de Melo. “Descoberta da Literatura”. In: SECCHIN, Antonio Carlos (org.). João Cabral de Melo Neto: Poesia Completa. Rio de Janeiro: Alfaguara; Companhia das Letras, 2020, p. 650.
SCRAMIN, Susana. Literatura do Presente. Chapecó: Argos, 2007.
TODOROV, Tzvetan. “A noção de literatura” (1978). In: TODOROV, T. Os gêneros do discurso, São Paulo: Editora UNESP Digital, 2019. Edição Kindle.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).