Chamada para artigos: v. 17, n. 33 (primeiro semestre de 2025): 180 ANOS COM EÇA DE QUEIRÓS E A ARTE REALISTA

2024-08-12

Organizadores: Daiane Cristina Pereira (UFPR), Giuliano Lellis Ito Santos (UEPG), Helder Garmes (USP), Rosana Apolônia Harmuch (UEPG).

Parodiando o título do paradigmático livro 150 anos com Eça de Queirós (1997), organizado por Elza Miné e Benilde Justo Caniato, o presente dossiê da revista Desassossego visa a colocar em debate as diversas facetas do escritor português no ano de 2025, em razão da efeméride de 180 anos de seu nascimento. Eça de Queirós se firmou como um dos mais importantes romancistas da língua portuguesa não apenas pela sua qualidade literária ou por seu estilo peculiar, mas por ter se consagrado como grande promotor da literatura de cunho realista em Portugal, ganhando grande visibilidade com a publicação do romance O crime do padre Amaro, cuja primeira versão é de 1875. 

Conhecido pela forma como realiza forte crítica a grande parte da sociedade portuguesa de sua época, suas obras abordam temas como a hipocrisia do clero, o provincianismo da burguesia lisboeta, passando pela desilusão da aristocracia citadina e rural, ainda abastada e influente, mas decadente e deslocada no Portugal da Regeneração, para além da crítica a determinadas camadas e setores da sociedade portuguesa, como políticos, jornalistas, intelectuais, artistas, dentre outros. Além disso, importa remarcar a sempre vívida recepção que o escritor português encontra entre leitores e críticos, justificando o contínuo estudo de sua obra.

Na crítica queirosiana, há certo consenso de que sua adesão à arte realista/naturalista se faz mais radicalmente na década de 1870, o que se pode constatar em seus primeiros romances, tais como O crime do padre Amaro ou O primo Basílio, para além das crônicas e textos jornalísticos publicados na imprensa portuguesa. A arte realista, neste contexto, apresenta um caráter intervencionista, cujo objetivo é a transformação efetiva da sociedade, tanto em sua dimensão política quanto moral, tendo como exemplos mais expressivos dessa atitude o discurso do escritor proferido nas Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, ou os diversos artigos presentes no folheto satírico As Farpas, publicados em 1871-1872.

A partir da década de 1880, Eça passa a reconfigurar sua visão sobre a arte realista. Já no final daquela década, em 1888, vem a público o romance Os Maias, em que a ideia de intervenção perde protagonismo e a crítica social passa a explorar narrativas mais ambíguas e polissêmicas, que multiplicam pontos de vista sobre a matéria narrada, deixando diversos caminhos abertos para a interpretação do leitor; trilha seguida e reformulada até o final da vida do autor, em 16 de agosto de 1900, aos 54 anos.

Relembrando o momento em que começou a jornada do menino, homem e, depois, consagrado escritor Eça de Queirós, em 25 de novembro de 1845, queremos, com a publicação deste dossiê, prestar nossa homenagem à comemoração dos 180 anos de seu nascimento.

Para sua efetivação, esperamos receber trabalhos que tratem de sua obra, quer seja da perspectiva monográfica, quer da perspectiva comparatista, na busca de, como escrevia Eça de Queirós em carta a Teófilo Braga, continuar a “acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso - e com todo o respeito pelas instituições que são de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhes dá uma sociedade podre. Não lhe parece Você que um tal trabalho é justo?”. 

 

Além do dossiê temático, a Revista Desassossego conta com a recepção de texto em fluxo contínuo para a seção VÁRIA, para a qual recebemos artigos científicos relacionados à literatura e cultura portuguesas; e a seção OUTROS DESASSOSSEGOS, na qual publicamos textos poéticos e autorais inéditos enviados por nossos leitores. Ainda podem ser publicadas RESENHAS de livros editados nos últimos cinco anos ou ENTREVISTAS com nomes relevantes para a temática da revista.

 

PRAZO PARA ENTREGA: Os artigos, resenhas e entrevistas relacionadas ao dossiê temático 180 anos com Eça de Queirós e a arte realista serão recebidos impreterivelmente até 3 de fevereiro de 2025. A publicação está prevista para julho de 2025.