BESTIÁRIO DA LITERATURA DA GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (ALGUMAS CONSIDERAÇÕES)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v10i19p59-75Palavras-chave:
bestiário, guerra colonial, cão.Resumo
Perscrutando várias obras que tratam o tema do colonialismo e da guerra colonial portuguesa, de entre elas sublinhando a obra de António Lobo Antunes, concluímos não haver uma epopeia que cante, como Os Lusíadas o fazem, o papel do português que combateu nessa guerra. Talvez essa falha de representação (conectada com a urgência em denegar e obliterar as memórias de um tempo em que um país, cuja posição europeia era subalterna, só em África se pensava próspero) derive do facto de o jovem português mobilizado para as colónias africanas não ter tido um papel linear. Efectivamente, a sua acção foi pautada por um desempenho dual, entre a prosperização e o alquebramento de um regime que, por um lado, se sustentava na guerra e, por outro, falhará exactamente através dela. O combatente português desliza para uma hesitação identitária ao nível pessoal e, sobretudo, social, parcialmente resolvida através de um bestiário onde se incluem o lobo e, sobretudo, o cão (imagens que alegorizam a transformação sofrida pelos jovens combatentes). Propomos, pois, que tenha sido na guerra colonial que melhor se tenham espelhado tais binómios: a) a experiência agónica que animaliza (ou canibaliza) o soldado; b) a experiência enquanto conhecimento que o leva a reavaliar a sua identidade individual e, extrapolando, a identidade colectiva.
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