A PELE QUE NÃO HABITO: A FUSÃO HOMEM E BICHO NO CONTO “A PELE DO JUDEU” DE MÁRIO DE CARVALHO
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v10i19p115-132Palavras-chave:
Conto português, fantástico, o animal na literaturaResumo
Na reconciliação do real com o imaginário, a literatura fantástica tem legitimado, pelo viés do símbolo e da alegoria, temores e indagações sobre a relação entre homem e bicho. Sedimentado no caráter subversor da realidade, figurações sombrias e de grande impacto emocional circunscrevem questões prementes sobre identidade, alteridade, integração natural ou experiência civilizada. É o que se verifica no conto “A pele do judeu”, integrante da obra Contos da sétima esfera (1981) do português Mário de Carvalho. No relato, a metamorfose da personagem central realça a natureza lendária do enredo ao mesmo tempo em que destaca a jornada subjetiva que os seres ficcionais enfrentam em busca de si mesmos e dos mistérios da vida. É, pois, seguindo tal linha de reflexão que pretendemos analisar o referido conto à luz dos conceitos de Irène Bessière (1974), Julio Cortázar (1974), Roger Bozzetto (2001), David Roas (2014), Remo Ceserani (2006) dentre outros autores que em suas obras abrem um espaço promissor para o debate sobre a natureza do relato fantástico. Também muito oportunos são os postulados teóricos de Warnes (2012) e Gallagher (2009) sobre o motivo da metamorfose na literatura.
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