MÃE E A INVENÇÃO DA FAMÍLIA: UMA LEITURA PSICANALÍTICA DO ROMANCE O FILHO DE MIL HOMENS COMO UM CONTRAPONTO AO ESTATUTO DA FAMÍLIA
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v10i19p152-174Palavras-chave:
O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe, psicanálise, entidade familiar.Resumo
Em 2013 a Câmara dos Deputados apresentou um projeto de lei que dispunha sobre o Estatuto da Família. O projeto, aprovado em Comissão Especial em 2015, aguarda, até o presente momento, votação no plenário. O Estatuto provocou muitas querelas, principalmente em torno de sua estreita definição de entidade familiar, que em alguns trechos se limita a união conjugal firmada entre um homem e uma mulher. Em 2012, um ano antes de o projeto ser apresentado na Câmara, chegou ao Brasil o livro O filho de mil homens, quinto romance de Valter Hugo Mãe. A obra traz como um dos seus temas principais a invenção de uma família e expõe, através dela, como o laço afetivo muitas vezes participa mais do engendramento do núcleo familiar do que laços sanguíneos ou disposições de gêneros. O presente artigo pretende fazer uma leitura psicanalítica do romance de Mãe apresentando-o como um contraponto à definição de entidade familiar proposta pela Estatuto da Família, já que para a teoria psicanalítica, assim como revela também a prosa de Mãe, a família abarca um arranjo muito mais complexo do que o Estatuto busca delimitar.
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