Um parafuso a menos, um parafuso a mais

Autores

  • Lilian Honda Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v13i25p37-50

Palavras-chave:

poesia portuguesa moderna e contemporânea, Adília Lopes

Resumo

Os sofrimentos de ordem psíquica são temas recorrentes na poesia de Adília Lopes, seja num registro marcadamente crítico ou irônico, quando não de pura invectiva, contra profissionais da psiquiatria e da psicanálise, ou na alusão aos psicofármacos, seus efeitos adversos no organismo e a displicência com que são prescritos. A questão se torna mais instigante quando se considera o jogo autobiográfico que atravessa a obra adiliana (nesse caso, um exercício inelutável) e o fato de a poetisa ter tornado público em entrevistas, mais de uma vez, o mal psíquico de que padeceu. Seus versos podem relacionar, por exemplo, um tema como a obesidade à consequência do uso de psicofármacos, passando pela imposição de um padrão de beleza ao corpo feminino, encadear esse tópico a questões do mundo do trabalho ou mesmo desdobrar-se em indagações sobre comportamentos histórica e socialmente determinados como aceitáveis. Os múltiplos sentidos desse jogo envolvendo a conformidade às regras e os sofrimentos psíquicos na poética de Adília Lopes tornaram necessário buscar uma conceitualização mais precisa de “normalidade” e “anormalidade” a partir da reflexão filosófica de Georges Canguilhem, autor de O Normal e o Patológico, na qual são investigados os paradigmas que estruturaram o conhecimento médico-científico e as noções de saúde/doença, normalidade/patologia e anomalia, conceitos que passaram a formar a base da multiplicação de dispositivos reguladores em todas as esferas da vida social.

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Referências

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Publicado

2021-12-28

Como Citar

Honda, L. (2021). Um parafuso a menos, um parafuso a mais. Revista Desassossego, 13(25), 37-50. https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v13i25p37-50