Um parafuso a menos, um parafuso a mais
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v13i25p37-50Palavras-chave:
poesia portuguesa moderna e contemporânea, Adília LopesResumo
Os sofrimentos de ordem psíquica são temas recorrentes na poesia de Adília Lopes, seja num registro marcadamente crítico ou irônico, quando não de pura invectiva, contra profissionais da psiquiatria e da psicanálise, ou na alusão aos psicofármacos, seus efeitos adversos no organismo e a displicência com que são prescritos. A questão se torna mais instigante quando se considera o jogo autobiográfico que atravessa a obra adiliana (nesse caso, um exercício inelutável) e o fato de a poetisa ter tornado público em entrevistas, mais de uma vez, o mal psíquico de que padeceu. Seus versos podem relacionar, por exemplo, um tema como a obesidade à consequência do uso de psicofármacos, passando pela imposição de um padrão de beleza ao corpo feminino, encadear esse tópico a questões do mundo do trabalho ou mesmo desdobrar-se em indagações sobre comportamentos histórica e socialmente determinados como aceitáveis. Os múltiplos sentidos desse jogo envolvendo a conformidade às regras e os sofrimentos psíquicos na poética de Adília Lopes tornaram necessário buscar uma conceitualização mais precisa de “normalidade” e “anormalidade” a partir da reflexão filosófica de Georges Canguilhem, autor de O Normal e o Patológico, na qual são investigados os paradigmas que estruturaram o conhecimento médico-científico e as noções de saúde/doença, normalidade/patologia e anomalia, conceitos que passaram a formar a base da multiplicação de dispositivos reguladores em todas as esferas da vida social.
Downloads
Referências
AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad. Maria Lúcia Pereira. Campinas: Papirus, 2016.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Trad. Maria Thereza R. de Carvalho Barrocas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017.
DIOGO, Américo L.; SILVESTRE, Osvaldo M. “Entrevista de Adília Lopes”. Inimigo Rumor Revista de Poesia, Rio de Janeiro, n. 10, p. 18-23, 2001.
LOPES, Adília. “Como se faz um poema?”. Inimigo Rumor Revista de Poesia, Rio de Janeiro, n. 20, p. 109-110, 2008.
LOPES, Adília. Dobra – Poesia Reunida. Porto: Assírio & Alvim, 2014.
LOPES, Adília. Bandolim. Porto: Assírio & Alvim, 2016a.
LOPES, Adília. Z/S. Lisboa: Averno, 2016b.
PESSOTTI, Isaias. Deficiência mental: da superstição à ciência. São Paulo: EDUSP, 1993.
ROUDINESCO, Elizabeth. Por que a psicanálise? Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Lilian Honda
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
O(s) autor(es) declara(m) automaticamente ao enviar um texto para publicação na revista Desassossego que o trabalho é de sua(s) autoria(s), assumindo total responsabilidade perante a lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, no caso de plágio ou difamação, obrigando-se a responder pela originalidade do trabalho, inclusive por citações, transcrições, uso de nomes de pessoas e lugares, referências histórias e bibliográficas e tudo o mais que tiver sido incorporado ao seu texto, eximindo, desde já a equipe da Revista, bem como os organismos editoriais a ela vinculados de quaisquer prejuízos ou danos.
O(s) autor(s) permanece(m) sendo o(s) detentor(es) dos direitos autorais de seu(s) texto(s), mas autoriza(m) a equipe da Revista Desassossego a revisar, editar e publicar o texto, podendo esta sugerir alterações sempre que necessário.
O autor(s) declara(m) que sobre o seu texto não recai ônus de qualquer espécie, assim como a inexistência de contratos editoriais vigentes que impeçam sua publicação na Revista Desassossego, responsabilizando-se por reivindicações futuras e eventuais perdas e danos. Os originais enviados devem ser inéditos e não devem ser submetidos à outra(s) revista(s) durante o processo de avaliação.
Em casos de coautoria com respectivos orientadores e outros, faz-se necessária uma declaração do coautor autorizando a publicação do texto.
Entende-se, portanto, com o ato de submissão de qualquer material à Revista Desassossego, a plena concordância com estes termos e com as Normas para elaboração e submissão de trabalhos. O não cumprimento desses itens ou o não enquadramento às normas editoriais resultará na recusa do material.