Eduardo Lourenço perante o Livro do desassossego
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v16i31p34-53Palavras-chave:
Fernando Pessoa, Eduardo Lourenço, Livro do desassossego, Ensaio literárioResumo
Em 1982, a primeira edição exaustiva de textos atribuíveis ao Livro do desassossego impactou, de forma decisiva, os estudos sobre a obra de Fernando Pessoa. Isso porque aqueles textos não apenas ofereciam novos vieses para a compreensão da heteronímia, mas também colocavam em causa o seu mito genesíaco, segundo o qual o surgimento de Caeiro, Reis e Campos em 1914 teria correspondido a um instante de ruptura no processo criativo pessoano. Eduardo Lourenço foi especialmente sensível a tais mudanças de paradigma, conforme testemunham ensaios compilados por ele em Fernando, rei da nossa Baviera (1986), a maioria dos quais escritos após a publicação daquela “espécie de não-livro ou livro impossível”. Em um deles, insuflado pela obra recentemente dada à luz, o ensaísta concebe a “heteronímia clássica” como camuflagem do “heteronimismo original” que desde cedo terá presidido a criação pessoana. Propondo-se a refletir sobre a presumível mudança de perspectiva operada pelo Livro na forma como Lourenço pensa Pessoa e a tradição crítica do autor, este artigo sugere que hipóteses aventadas pelo ensaísta a partir de então estavam latentes em textos mais antigos, inclusive Pessoa revistado (1973). Desse modo, convocam-se também outros ensaios reunidos nos dois volumes de estudos pessoanos nas Obras completas de Eduardo Lourenço, chanceladas pela Fundação Calouste Gulbenkian, os quais propiciam a apreensão das linhas de força do conjunto ensaístico que ele consagrou a Fernando Pessoa.Downloads
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