O incesto como tragédia: a construção da hýbris em A Tragédia da Rua das Flores, de Eça de Queirós
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v17i33p148-172Palabras clave:
Tragédia, Incesto, Eça de Queirós, Realismo, FatalidadeResumen
O artigo analisa a construção trágica do motivo do incesto em A Tragédia da Rua das Flores, de Eça de Queirós, explorando a forma como o autor desenvolve a narrativa em torno da hýbris e da fatalidade, elementos centrais na tragédia clássica. O objetivo do estudo é demonstrar como a obra, embora inacabada e publicada postumamente, apresenta características que a aproximam do modelo trágico, destacando a relação entre os protagonistas Victor e Genoveva. O referencial teórico fundamenta-se na teoria aristotélica da tragédia, com destaque para os conceitos de hýybris, hamartíia e catarse, além das antinomias radicais de Goethe. A análise também considera a correspondência de Eça de Queirós, na qual o autor expressa suas intenções e receios quanto ao tema do incesto. A metodologia consiste em uma abordagem qualitativa e interpretativa da obra, associando-a ao contexto da literatura realista e à tradição da tragédia, examinando trechos selecionados que evidenciam a construção do conflito trágico e as emoções despertadas nos leitores. Como subsídio teórico e contextual, o texto inclui a explanação sobre o trágico grego e moderno, que contribui para esclarecer os vínculos entre a tragédia clássica e sua ressignificação na modernidade. Os resultados indicam que A Tragédia da Rua das Flores se insere na tradição trágica por meio da idealização amorosa, do destino inexorável e da punição fatal, culminando no suicídio de Genoveva e na ignorância de Victor quanto à verdade. A análise evidencia que Eça emprega um realismo severo, sem chocar o leitor, ao tratar do incesto com sofisticação narrativa, concluindo que a obra, mesmo inconclusa, apresenta uma complexidade dramática que a diferencia dentro do conjunto queirosiano.Descargas
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