“Diga-me o que e com quem confessas, e eu te direi quem és”: a confissão sacramental em O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v17i33p66-93Palabras clave:
Eça de Queirós, O crime do Padre Amaro, Confissão sacramental, AnticlericalismoResumen
O crime do Padre Amaro (1880), de Eça de Queirós (1845-1900), carrega o anticlericalismo já em seu título, nomeando, inclusive, a personagem eclesiástica responsável pelo delito. Costumamos, normalmente, entender esse romance queirosiano como a denúncia da lascívia clerical e das consequências dela para os crentes e descrentes – bem como, a não consequência final para a maioria dos padres predadores que povoam o romance. Dentre os vários elementos que o narrador se serve para formular suas denúncias está a prática da confissão sacramental. As próprias personagens debatem e comentam sobre os confessores e a penitência, de modo que a confissão não se constitui um assunto lateral na economia da obra, auxiliando, inclusive, o encadeamento da narrativa, a construção da verossimilhança, tornando-se, por fim, um dos motes anticlericais de denúncia contra os delitos eclesiásticos. Neste estudo, buscaremos demonstrar a importância desse tema para o romance, verificando como se dá a sua representação ficcional, em consonância com os discursos anticlericais pujantes ao longo do século XIX, sobretudo no contexto específico de Portugal. Para tanto, teremos em vista as prescrições institucionais do Catecismo Romano (1566), promulgado após o Concílio de Trento (1545-1563), e, sobretudo, as reflexões de Luís Machado de Abreu (2004), José Rivair Macedo (2009), dentre outros autores, que se debruçaram sobre a problemática.Descargas
Referencias
ABREU, Luís Machado de. Ensaios Anticlericais. Lisboa: Roma Editora, 2004.
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2011.
BONAÑO, Manuel Garrido. Curso de Liturgia Romana. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1961.
CATECISMO ROMANO. Catecismo dos Párocos, redigido por decreto do Concílio Tridentino, publicado por ordem do Papa Pio Quinto, dito vulgarmente. Anápolis: Serviço de Animação Eucarística Mariana, 1951.
CLEMENTE, Manuel. Igreja e sociedade portuguesa: do Liberalismo à República. Revista Didaskalia da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, n. XXIV, p. 119-129, 1994.
FERNANDES, Maria de Lurdes C. As artes da Confissão: em torno dos Manuais de Confessores do século XVI em Portugal. Revista Humanística e Teologia, Porto, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Teologia, v. 11, n. 1, p. 47-80, 1990.
FRANCO, José Eduardo. Anticlericalismo e universo feminino: polémicas e estereótipos. Revista Lusófona de Ciências das Religiões, Lisboa, ano VI, n. 11, p. 257-270, 2007.
MACEDO, José Rivair. Os Manuais de Confissão Luso-Castelhanos dos séculos XIII-XV. Aedos: Revista do Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 18-34, 2009.
MARQUES, João Francisco. Franciscanos e Dominicanos Confessores dos Reis Portugueses das Duas Primeiras Dinastias: Espiritualidade e Política. Revista da Faculdade de Letras – Línguas e Literaturas – Universidade do Porto, Porto, Anexo V, p. 53-60, 1993.
MENDES, Eduardo Soczek. “Os frades à mesa: uma refeição em O Monge de Cister, de Alexandre Herculano”. In: ROLOF, Aion; BITTENCORT, Andrea; NERY, Antonio Augusto. Diálogos com a Literatura Portuguesa III. São Paulo: Pimenta Cultural, 2024, p. 61-86.
MÓNICA, Maria Filomena. Eça: vida e obra de José Maria Eça de Queirós. Rio de Janeiro: Record, 2001.
NERY, Antonio Augusto. “Padres e padres: características do (anti)clericalismo em duas versões de O Crime do Padre Amaro”. In: PEREIRA, Daiane Cristina; SILVÉRIO, Danilo; ANDRADE, José Roberto de. (org.). O crime do padre Amaro - Eça de Queirós: texto da primeira versão e ensaios. Maringá: Eduem, 2019, p. 287-298.
PIERONI, Geraldo. Entre o sagrado e o profano: a confissão sacramental e os padres libidinosos banidos para o Brasil. XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH. São Leopoldo, p. 1-8, 2007.
QUEIRÓS, Eça de. O crime do Padre Amaro. São Paulo: Ediouro, 2001.
REIS, Carlos; SANTOS, Maria Eduarda Borges dos. “Introdução”. In: QUEIRÓS, Eça de. A Relíquia. Lisboa: I.N.C.M., 2021, p. 17-71.
SANTOS, Cristian. Devotos e devassos: representação dos padres e beatas na literatura anticlerical brasileira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Antonio Augusto Nery, Eduardo Soczek Mendes

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
O(s) autor(es) declara(m) automaticamente ao enviar um texto para publicação na revista Desassossego que o trabalho é de sua(s) autoria(s), assumindo total responsabilidade perante a lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, no caso de plágio ou difamação, obrigando-se a responder pela originalidade do trabalho, inclusive por citações, transcrições, uso de nomes de pessoas e lugares, referências histórias e bibliográficas e tudo o mais que tiver sido incorporado ao seu texto, eximindo, desde já a equipe da Revista, bem como os organismos editoriais a ela vinculados de quaisquer prejuízos ou danos.
O(s) autor(s) permanece(m) sendo o(s) detentor(es) dos direitos autorais de seu(s) texto(s), mas autoriza(m) a equipe da Revista Desassossego a revisar, editar e publicar o texto, podendo esta sugerir alterações sempre que necessário.
O autor(s) declara(m) que sobre o seu texto não recai ônus de qualquer espécie, assim como a inexistência de contratos editoriais vigentes que impeçam sua publicação na Revista Desassossego, responsabilizando-se por reivindicações futuras e eventuais perdas e danos. Os originais enviados devem ser inéditos e não devem ser submetidos à outra(s) revista(s) durante o processo de avaliação.
Em casos de coautoria com respectivos orientadores e outros, faz-se necessária uma declaração do coautor autorizando a publicação do texto.
Entende-se, portanto, com o ato de submissão de qualquer material à Revista Desassossego, a plena concordância com estes termos e com as Normas para elaboração e submissão de trabalhos. O não cumprimento desses itens ou o não enquadramento às normas editoriais resultará na recusa do material.