Adília Lopes relê Almeida Garret e inscreve a liberdade e a prevalência do desejo feminino na Lírica Contemporânea Portuguesa
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v17i34p206-222Palavras-chave:
Adília Lopes, Almeida Garrett, Amor sublime, Desejo sexual feminino, Vozes dissonantesResumo
A poesia de Adília Lopes surpreende pela capacidade de comunicabilidade que apresenta. Pela mesma razão, encanta e (co)move o leitor a trilhar os caminhos de sua escrita multiperspectivada com que aproxima mundos, a princípio, díspares, como tradição erudita e cultura popular, prosaico e poético, autobiográfico e ficcional. Ao revisitar a lírica portuguesa, a temática do amor e do desejo sexual parece inescapável. Adília, em diversos momentos de sua vasta obra, convoca a poesia de Almeida Garrett, por identificar nela uma voz dissonante, com a qual o autor soube problematizar as contradições do conservadorismo romântico português e propor uma ressignificação das convenções acerca do amor e da paixão na sociedade oitocentista, o que ocorre não só na sua poesia, mas também nas Cartas de amor à Viscondessa da Luz. É como se, ao inserir-se na contemporaneidade como uma voz dissonante, Adília fosse buscar na tradição mais do que uma inspiração, uma referência. Com isso, sente-se à vontade para discutir sobre como a liberdade do corpo e o desejo sexual feminino ainda são vistos pela sociedade de forma conservadora. A fim de tornar mais clara essa relação entre amor e desejo, recorremos à teorização psicanalítica sobre as concepções de amor, segundo Freud e Lacan. A palavra poética de Adília, sempre heterogênea e múltipla, “palavras”, no plural, porque constituídas pelo diálogo com outras tantas, apresenta-se, nesse sentido, como resistência, porque, em última instância, direciona o leitor para um questionamento maior: como e o que pode dizer a poesia no mundo contemporâneo?
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