Eleições
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2022.36106.001Resumo
Este número 106 de Estudos Avançados é dedicado a dois dossiês que tratam de temas não apenas atuais, mas expressivos de nossa contemporaneidade: Eleições no Brasil e Governança florestal.
O primeiro contempla questões, desafios, impasses, avanços e incertezas que têm marcado a história eleitoral no Brasil. Baseados em rigorosas investigações no campo das ciências sociais, em particular da ciência política, os artigos exploram inquietações presentes na opinião pública, no debate midiático e na agenda de política, tanto nacional como regional e local. Tendências e a evolução da polarização política são examinadas a partir do acompanhamento de oito eleições presidenciais brasileiras do período pós-ditadura militar e da análise detalhada de estatísticas espaciais relativas à votação em 5.570 municípios. Em todas, é flagrante a polarização, embora variem em sentido e em intensidade. Na mesma direção, outra contribuição para o dossiê tem por objeto eleições para prefeito no Brasil entre 2000 e 2020. Examinando a estruturação dos processos eleitorais sob a perspectiva das organizações e lideranças partidária, concluiu-se que as lideranças logram fidelizar os eleitores mais do que os partidos políticos.
A propósito, quais as percepções dos eleitores brasileiros sobre os partidos políticos desde o processo de redemocratização nos anos 1980? Tendo por referências surveys de opinião pública, os dados revelam que os partidos foram incapazes de construir sólida legitimidade junto à sociedade como fundamento do regime democrático. Por sua vez, desde 1988, discussões sobre reformas eleitorais apontam que o sistema eleitoral brasileiro vem conhecendo alterações relevantes que interferem no campo de disputas, em especial no sistema de alocação proporcional e no financiamento de campanhas. Igualmente relevantes são os debates a respeito da igualdade de gênero na arena eleitoral brasileira nas três últimas décadas. Se, por um lado, recentes inovações legislativas têm produzido impactos positivos, por outro, ainda assim reações conservadoras têm mitigado conquistas e mantido representação predominantemente masculina.
Por fim, este dossiê ainda acolhe três temas da maior relevância: pesquisas eleitorais, programas das candidaturas e os fundamentos ideológicos do bolsonarismo. Exame detido das metodologias que informam pesquisas eleitorais indica que as estimativas em pleitos nacionais, especialmente para Presidência e Governos estaduais em segundo turno, tendem a ser mais próximas dos resultados. Quanto aos conteúdos dos programas de direita e esquerda, foi possível constatar que eles convivem lado a lado nos programas, ao mesmo tempo em que deixam entrever distinções ideológicas. A última contribuição passa em revista os temas que compõem a agenda conservadora com que se identifica o eleitorado de Jair Bolsonaro.
Questão frequente e cada vez mais tratada com intensidade na mídia internacional e nacional e nos círculos científicos, governamentais e não governamentais, é o da governança florestal. No segundo dossiê, são abordados vários aspectos desse tema (Ab’Sáber, 1990).1 A transição dos modelos hierárquicos e centralizados para modelos de cogestão de sistemas socioecológicos organizados em redes. A recente revalorização das florestas seguida de regulamentações mais rigorosas, como também do acirrado conflito de interesses distintos e opostos. Raízes ideológicas e culturais que explicam as tensões inerentes à expansão das áreas protegidas no Brasil, contrapondo atores diversos. Na mesma direção, são abordadas as reações e resistências a tais conflitos lideradas por associações da sociedade civil, bem como por força de coalizões e plataformas multissetoriais. Nesse mesmo contexto, destacam-se inovações socioecológicas que compartilham saberes e práticas conformando novas relações sociais que têm a comunidade local como protagonista. Completa este dossiê análise de principais destaques obtidos com a realização do Web-Seminário Construindo Diálogos sobre Governança Florestal.
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Referências
AB’SÁBER, A. Um plano diferencial para o Brasil. Estudos Avançados, v.4, n.9, 1990. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ea/a/RR7CVk5S5m44J8zt7vtV4RP/?lang=pt>.
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