Autonomias contracoloniais frente ao Capitaloceno na Amazônia: o movimento indígena no Baixo Tapajós
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103-4014.202438112.007Palavras-chave:
Tupinambá, Reconhecimento, Colonialidade, Universalidade insurgente, Território de uso comumResumo
Entendemos o movimento indígena do Baixo Tapajós como “autonomia contracolonial” frente ao Capitaloceno, com foco no povo Tupinambá. O Capitaloceno na Amazônia começou com o capitalismo mercantil no período colonial e se intensificou durante a ditadura militar com a consolidação do Estado capitalista moderno. Concebemos a autonomia contracolonial em termos de cultivo de mandioca, cosmovisão e auto-organização política. Os conflitos entre indígenas e não indígenas prejudicam as autonomias contracoloniais. Exploramos quatro possibilidades para tratar dessa problemática: uma nova abordagem universal para o reconhecimento; a ideia de universalidade insurgente; a ideia de terras tradicionalmente ocupadas; e territórios de uso comum. No caso do território Tupinambá, argumentamos que todos os povos da floresta que habitaram o território ancestralmente devem ter o direito de permanecer, mesmo se demarcado pelo Estado como uma Terra Indígena. Um futuro território Tupinambá deve ser um espaço onde todos os povos da floresta possam continuar vivendo à sua maneira, mesmo aqueles que não se reconhecem como indígenas.
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