“Mulher” e “família”: o senso-comum como política pública no governo Bolsonaro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0103-4014.202539113.012

Palavras-chave:

Ciência, Políticas públicas, Conservadorismo, Gênero, Direitos Humanos

Resumo

No governo Bolsonaro, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Damares Alves erradicou a perspectiva de gênero de sua estrutura interna e atuação, insistindo nas ideias de “mulher” e “família” como foco de trabalho. A presente pesquisa vem mapeando essa construção de uma nova gramática que disputa o próprio sentido de “direitos humanos” deslocando objetos e investindo na criação discursiva de um novo problema social (o enfraquecimento dos laços familiares), ao passo que posiciona a “família” como ferramenta na solução de problemas sociais já legitimados como tais (como a violência doméstica). Este trabalho descreve um dos fenômenos encontrados nesse estudo: a sistemática utilização de categorias do senso-comum em oposição a categorias científicas para o embasamento de políticas públicas.

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Biografia do Autor

  • Marília Moschkovich, Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo, Brasil

    Marília Moschkovich é professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde coordena o Ímpar - Laboratório de Gênero, Sexualidade e Estudos Críticos da Família.

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Publicado

2025-09-08

Como Citar

Moschkovich, M. (2025). “Mulher” e “família”: o senso-comum como política pública no governo Bolsonaro. Estudos Avançados, 39(113), e39113217. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.202539113.012