Críticas feministas à democracia no Brasil: análises da crise e dos limites da normalidade
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103-4014.202539113.006Palavras-chave:
Movimentos feministas, Democracia, Crise, BrasilResumo
A partir dos aportes da literatura de movimentos sociais e da participação e das teorias políticas feministas, o artigo discute o duplo desafio colocado pelas promessas não cumpridas das democracias liberais e pelo avanço de alternativas iliberais e autoritárias. A leitura do que está em jogo na normalidade e na crise das democracias é feita a partir das vozes de lideranças feministas e antirracistas brasileiras, com base em entrevistas que realizamos no ano de 2023. As entrevistas nos permitiram acessar uma dimensão concreta da democracia, enquanto experiência vivida, que se expressa nas relações dessas mulheres e das organizações em que atuam com o Estado brasileiro. Desse prisma, as análises destacam a tensão entre estrutura e conjuntura: a visão de que o Estado foi historicamente violento e excludente para com as mulheres, em particular as negras, indígenas e trans, e a visão de que a conjuntura política importa porque pode melhorar ou piorar as condições em que se disputa o Estado. A tensão entre estrutura e conjuntura orienta a construção das estratégias e as disputas pela democracia.
Downloads
Referências
ALVAREZ, S. E. Engendering Democracy in Brazil: Women’s Movements in Transition Politics. S.l.: Princeton University Press, 1990.
ALVAREZ, S. E. Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminista. Cadernos Pagu, p.13-56, 2014.
ALVAREZ, S. E.; DAGNINO, E.; ESCOBAR, A. (Org.) Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras. Belo Horizonte: Ed. UFMG, Univ. Federal de Minas Gerais, 2000. (Humanitas, v.53).
AVRITZER, L. Transition to Democracy and Political Culture: an Analysis of the Conflict Between Civil and Political Society In Post-Authoritarian Brazil. Constellations, v.2, n.2, p.242-67, 1995.
BENZA, G.; KESSLER, G. La ¿nueva? estructura social de América Latina: Cambios y persistencias después de la ola de gobiernos progresistas. Buenos Aires: Siglo XXI, 2020.
BENZA, G.; KESSLER, G. La ¿nueva? estructura social de América Latina: cambios y persistencias después de la ola de gobiernos progresistas. México; Buenos Aires: Siglo Veintiuno editores, 2021. (Sociología y política).
BIROLI, F. Agentes imperfeitas: contribuições do feminismo para a análise da relação entre autonomia, preferências e democracia. Revista Brasileira de Ciência Política, p.7-38, 2012.
BIROLI, F. Teorias feministas da política, empiria e normatividade. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n.102, p.173-210, 2017.
BIROLI, F. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018a.
BIROLI, F. Violence against Women and Reactions to Gender Equality in Politics. Politics & Gender, v.14, n.4, p.681-5, 2018b.
BIROLI, F. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018c.
BIROLI, F. Crise da democracia e conflitos em torno da igualdade de gênero e da diversidade sexual. In: BRITO, A. S.; REIS, L. S. (Org.). Direitas, radicalism e as disputas pela linguagem de direitos no Brasil. FES/LAUT, 2024. p.186-209.
BIROLI, F.; CAMINOTTI, M. The Conservative Backlash against Gender in Latin America. Politics & Gender, v.16, n.1, p.E1, 2020.
BIROLI, F.; TATAGIBA, L. Mecanismos discursivos de produção de retrocessos nas políticas de igualdade de gênero no Brasil e suas implicações para a democracia (2019-2020). In: 47o ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. Campinas. Campinas, 2023.
BIROLI, F.; TATAGIBA, L.; QUINTELA, D. F. Reações à igualdade de gênero e ocupação do Estado no governo Bolsonaro (2019-2022). Opinião Pública, Campinas, v. 30, e3013, 2024.
BROWN, W. In the ruins of neoliberalism: the rise of antidemocratic politics in the West. New York: Columbia University Press, 2019.
CHAUI, M. Cultura e democracia. São Paulo: Moderna, 1981.
DAGNINO, E. (Org.) Os anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
DAGNINO, E. (Org.) Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
DAHL, R. A. Polyarchy: participation and opposition. New Haven (Conn.): Yale University Press, 1971. (Political science).
DAHLERUP, D. Has Democracy Failed Women? Cambridge: Polity Press, 2018. (Democratic Futures series).
KRIZSÁN, A.; ROGGEBAND, C. Towards a Conceptual Framework for Struggles over Democracy in Backsliding States: Gender Equality Policy in Central Eastern Europe. Politics and Governance, v.6, n.3, p.90-100, 2018.
LECHNER, N. Los patios interiores de la democracia: Subjetividad y política. 2. ed. México; Santiago de Chile: Fondo de Cultura Económica, 198895. (Política y derecho).
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. How democracies die. New York: Crown, 2018.
LUNA, J. P. et al. (Org.) Diminished parties: democratic representation in contemporary Latin America. Cambridge UK; New York: Cambridge University Press, 2021.
LUNA, N. Disputes on abortion and sexual diversity in the Chamber of Deputies in the early years of the Bolsonaro government: the art of making differences. Vibrant, Virtual Braz. Anthr., v. 20, p.1-40, 2023.
MATOS, M. Mulheres e a violência política sexista: desafios à consolidação da democracia. In: BIROLI, F. et al. (Org.) Mulheres, poder e ciência política: debates e trajetórias. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.
MEYER, D. S.; STAGGENBORG, S. Movements, Countermovements, and the Structure of Political Opportunity. American Journal of Sociology, v.101, n.6, p.1628-660, 1996.
MOUNK, Y. The people vs. democracy: why our freedom is in danger and how to save it. Cambridge, Mas.; London: Harvard University Press, 2018.
NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural backlash: Trump, Brexit, and the rise of authoritarian-populism. New York: Cambridge University Press, 2019.
PAOLI, M. C. Citizenship, Inequalities, Democracy and Rights: the Making of a Public Space in Brazil. Social & Legal Studies, v.1, n.2, p.143-59, 1992.
PATEMAN, C. O Contrato Sexual. São Paulo: Paz E Terra, 1970.
PHILLIPS, A. The politics of presence: the political representation of gender, ethnicity, and race. Oxford: Oxford Univ. Press, 1995.
PRZEWORSKI, A. Crises da democracia. Trad. Berilo Vargas. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
QUINTELA, D.; BIROLI, F. Activism, Justice, and the Centrality of Care: Brazilian’s ‘mothers against police violence’ movements. Contemporary Social Science, v. 17, 276-289; 2021.
SAFFIOTI, H. I. B. O trabalho da mulher no Brasil. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, v.5, 1982.
SEGATO, R. L. La guerra contra las mujeres. Madrid: Traficantes de Sueños, 2016. (Mapas, v.45).
SOUZA, L.; BIROLI, F. Violencia política de género: tipología y cuerpos-territorio en la experiencia de las diputadas federales progresistas brasileñas. Revista Elecciones, v.22, n.26, 2023.
TATAGIBA, L. et. al. (Org.). Participação e ativismos: entre retrocessos e resistências. Porto Alegre: Zahar, 2022.
TELLES, V. da S. Sociedade civil, direitos e espaços públicos. Polis, n.14, p.43-53, 1994.
TILLY, C. Durable Inequality. Berkeley: University of California Press, 1998.
VIVEROS VIGOYA, M. La interseccionalidad: una aproximación situada a la dominación. Debate feminista, n.52, p.1-17, 2016.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Luciana Tatagiba, Flávia Biroli

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Estudos Avançados não celebra contrato de cessão de direitos autorais com seus colaboradores, razão pela qual não detém os direitos autorais dos artigos publicados. Os interessados em reproduzir artigos publicados na revista devem necessariamente obter o consentimento do autor e atribuir devidamente os créditos ao periódico.