A lógica de dupla estigmatização social de crianças e adolescentes em situação de rua em Capitães da Areia
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2022.198054Palavras-chave:
Direitos Humanos, Capitães da Areia, Estado Penal, Democracia racialResumo
Este estudo analisa, no quadro teórico-metodológico da semiótica discursiva francesa, os contornos de uma retórica conservadora e intolerante que esconde, por trás de sua configuração, violação de Direitos Humanos de crianças e de adolescentes em situação de rua em Capitães da Areia (1937), livro de Jorge Amado. Nesse sentido, mostra-se que, do ponto de vista da organização narrativa, a exclusão como sanção pragmática está assentada na lógica de dupla estigmatização social dos sujeitos marginalizados: a invisibilidade e a (ultra)visibilidade. Para além disso, o romance esboça a atuação do Estado Penal e a sua metodologia de punição e exclusão dos mais pobres. Em síntese, evidencia-se uma descontinuidade com o projeto de identidade nacional fundamentado na eufórica celebração da mistura e na noção de democracia racial e cordial.
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