História de vida de uma raizeira do Cerrado: Lucely Pio e sua política de resistência
DOI:
https://doi.org/10.11606/extraprensa2024.233300Palavras-chave:
Raizeiras, Medicina tradicional, Cerrado, Histórias de vida, Conhecimento tradicional sobre plantas medicinaisResumo
O artigo tem como objetivo apresentar a vida de Lucely Morais Pio e suas lutas em defesa de direitos territoriais, sociais, culturais e ambientais. Como quilombola e raizeira, Lucely tem enfrentado exclusões históricas que se co-constituem nas contradições e nas desigualdades produzidas pelo colonialismo, modernidade e capitalismo e que ameaçam a existência da sua comunidade, da prática da medicina tradicional, e dos saberes relativos a plantas medicinais e do Cerrado. A partir de diversas formas de compartilhamento da vida de Lucely, identificamos que ela realiza enfrentamentos a partir de uma poderosa e complexa política de resistência, que combina articulações em rede, conexões com antepassados e interações com plantas medicinais. Essa política possibilita que Lucely realize mediações entre diferentes dimensões temporais, o espiritual, o corpo, as plantas, o território, as comunidades, as instituições, o nacional e o global. Sua história de vida e de resistência merecem ser apresentadas, como uma maneira de conhecê-la e de imaginar e construir futuros possíveis.
Downloads
Referências
ALBERNAZ, Pablo de Castro; CARVALHO, José Jorge. Encontro de Saberes: por uma universidade antirracista e pluriepistêmica. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 28, n. 63, p. 333-358, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/F9NpLCqhy5tzj5GwcHFY86h/?format=pdf&lang=pt/. Acesso em: 27 fev. 2025.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Terras tradicionalmente ocupadas: processos de territorialização e movimentos sociais. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Presidente Prudente, v. 6, n. 1, p. 9-32, 2004. DOI: https://doi.org/10.22296/2317-1529.2004v6n1p9.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, D.F.: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 set. 2025.
BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del2848.htm. Acesso em: 07 jan. 2025.
BRAZ, Ytxaha Pankararu. Rios da história de To’á Kaninã: Do Opará ao Jequitinhonha. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais) – Universidade de Brasília, Brasília, 2023.
BUCHILLET, Dominique. A antropologia da doença e os sistemas oficiais de saúde. In: BUCHILLET, Dominique (org.). Medicinas tradicionais e medicina ocidental na Amazônia: Contribuições científicas apresentadas no Encontro de Belém – 27/novembro a 1º/dezembro de 1989. Belém: CEJUP, 1991. p. 21-44.
CARVALHO, José Jorge de; KIDOIALE, Makota; CARVALHO, Emílio Nolasco de; COSTA, Samira Lima. Sofrimento psíquico na universidade, psicossociologia e Encontro de saberes. Revista Sociedade e Estado, Brasília, D.F., v. 35, n. 1, p. 135-162, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202035010007.
CARVALHO, José Jorge de; VIANNA, Letícia Costa Rodrigues. O encontro de saberes nas universidades. Uma síntese dos dez primeiros anos. Revista Mundaú, Maceió, n. 9, p. 23-49, 2020. DOI: https://doi.org/10.28998/rm.2020.n.9.11128.
CLEMENTS, Elizabeth Alice; FERNANDES, Bernardo Mançano. Land grabbing, agribusiness and the peasantry in Brazil and Mozambique. Agrarian South: Journal of Political Economy, Presidente Prudente, v. 2, n. 1, p. 41-69, 2013. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/227954. Acesso em: X.
COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica, Brasília, D.F., v. 20, n. 1, p. 13-23, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abb/a/RhxPXykYPBPbCQCxz8hGtSn/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2025.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Relações e dissensões entre saberes tradicionais e saber científico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac & Naify, 2009.
D´ALMEIDA, Sabrina Soares. Guardiãs das folhas: mobilização identitária de raizeiras do cerrado e a autorregulação do ofício. 2018. Tese (Doutorado em Antropologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
DIAS, Jaqueline Evangelista. [Entrevista cedida a] Daniel França Oliveira. Videoconferência no Zoom. [S. l.]: [s. n.], 20 jan. 2022.
DIAS, Jaqueline Evangelista; LAUREANO, Lourdes Cardozo (orgs.). Farmacopéia Popular do Cerrado. Goiás: Articulação Pacari, 2009.
DIAS, Jaqueline Evangelista; LAUREANO, Lourdes Cardozo (orgs.). Protocolo Comunitário Biocultural das Raizeiras do Cerrado: direito consuetudinário de praticar a medicina tradicional. Turmalina: Articulação Pacari, 2014.
FUNDO ECOS. Fundo Ecos, c2025. Projeto Fundo Ecos. Disponível em: https://fundoecos.org.br/projetos/centro-comunitario-de-plantas-medicinas-comunidade-do-cedro/. Acesso em: 03 mar. 2025.
HAESBAERT, Rogério. Do corpo-território ao território-corpo (da terra): contribuições decoloniais. GEOgraphia, Niterói, v. 22, n. 48, p. 75-90, 2020. Disponível em: https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/43100. Acesso em: 25 jan. 2025.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Papirus. Campinas, 1989.
MEJIA, Lídia. Educação ambiental e saberes tradicionais das mulheres raizeiras e benzedeiras do Cerrado. 2024. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de Brasília, Brasília, 2024.
MUYLAERT, Camila Junqueira; SARUBBI JR., Vicente; GALLO, Paulo Rogério; ROLIM NETO, Modesto Leite; REIS, Alberto Olavo Advincula. Entrevistas narrativas: um importante recurso em pesquisa qualitativa. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 48, n. esp. 2, p. 193-199, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000800027.
OLIVEIRA, Daniel França. O compartilhamento do saber de plantas medicinais de razeiras do Cerrado: uma análise de processo de (re)(des)constituição a partir de interconexões assimétricas globais. 2023. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
OLIVEIRA, Josivaldo Pires. “Adeptos da mandinga”: candomblés, curandeiros e repressão policial na Princesa do Sertão (Feira de Santana – BA, 1938-1970). 2010. Tese (Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/8604/1/Oliveira.pdf. Acesso em: 22 jan. 2025.
PFRIMER, Matheus Hoffman; JÚNIOR, Ricardo César Barbosa. Neo-Agro-Colonialism, control over life, and imposed spatio-temporalities. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1, p. 9-33, 2017.
PIMENTA, Tânia Salgado. Barbeiros-sangradores e curandeiros no Brasil (1808- 28). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 349-374, 1998. Disponível em: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701998000200005. Acesso em: 27 dez. 2025.
PIO, Lucely Morais. [Entrevista cedida a] Daniel França Oliveira. Mineiros: [s. n.], 19 mar. 2022.
PIO, Lucely Morais. [Entrevista cedida a] Sílvia Guimarães. Brasília, D.F.: [s. n.], 20 jun. 2024.
PLOTKIN, Mark. Traditional knowledge of medicinal plants: the search for new jungle medicines. In: AKERELE, Olayiwola; HEYWOOD, Vernon; SYNGE, Hugh. The conservation of medicinal plants. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. p. 53-64.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter; LEFF, Enrique. Political ecology in Latin America: the social re-appropriation of nature, the reinvention of territories and the construction of an environmental rationality. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, v. 35, p. 65-88, 2015. DOI: 10.5380/dma.v35i0.43543.
RED DE PLANTAS MEDICINALES DEL AMÉRICA DEL SUR. Plantas medicinales de América del Sur: diálogos de saberes para la sustentabilidade. Montevideo: Centro Internacional de Investigaciones para el Desarrollo, 2005.
REDE CERRADO. Rede Cerrado, c2025. Nossa História. Disponível em: https://redecerrado.org.br/quem-somos/nossa-historia/. Acesso em: 3 mar. 2025.
REDE DE INTERCÂMBIO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS; ARTICULAÇÃO PACARI – PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO. Pesquisa Popular de Plantas Medicinais: Alto Vera Cruz, Granja de Freitas e Taquaril – Belo Horizonte, Minas Gerais. Belo Horizonte: Rede de Intercâmbio, 2004.
SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura: as diferentes medicinas no Rio de Janeiro Imperial. São Paulo: Editora Unicamp, 2001.
SCHIEBINGER, Londa. Prospecting for drugs: european naturalists in the west indies. In: HARDING, Sandra (ed.). The postcolonial science and technology studies reader. Durham, London: Duke University Press, 2011. p. 110-126.
SHIVA, Vandana. Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2001.
SILVEIRA, Renato. Os selvagens e a massa: papel do racismo científico na montagem da hegemonia ocidental. Afro-Ásia, Salvador, n. 23, p. 97-144, 1999. DOI: 10.9771/aa.v0i23.20980.
NO ATUAL ritmo, Brasil levará 2.188 anos para titular todos os territórios quilombolas com processos no Incra. Terra de Direitos, [S. l.], 12 mai. 2023. Disponível em: https://www.terradedireitos.org.br/noticias/noticias/no-atual-ritmo-brasil-levara-2188-anos-para-titular-todos-os-territorios-quilombolas-com-processos-no-incra/23871#. Acesso em: 25 jan. 2025.
TILLY, Charles. Durable inequality. Berkely: University of California Press, 1999.
VIGNOLI. Adriana Patrício. Fluxeira: modos de florestação em processo escultóricos contemporâneos. 2024. Tese (Doutorado em Artes Visuais) – Programa de Pós-Graduação em Artes, Universidade de Brasília, Brasília, 2024. Disponível em: http://icts.unb.br/jspui/handle/10482/51325. Acesso em: 25 jan. 2025.
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Narrativas de viagem, comércio de escravos e saberes médico-terapêuticos entre cirurgiões embarcadiços (séculos XVII-XIX). In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS AFRICANOS, 8, 2012, Madrid: Anais […]. Madrid: [s. n.], 2012.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Daniel França Oliveira, Sílvia Maria Ferreira Guimarães

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Ao submeter qualquer material científico para Extraprensa, o autor, doravante criador, aceita licenciar seu trabalho dentro das atribuições do Creative Commons, na qual seu trabalho pode ser acessado e citado por outro autor em um eventual trabalho, porém obriga a manutenção de todos os autores que compõem a obra integral, inclusive aqueles que serviram de base para o primeiro.
Toda obra aqui publicada encontra-se titulada sob as seguintes categorias da Licença Creative Commons (by/nc/nd):
- Atribuição (de todos os autores que compõem a obra);
- Uso não comercial em quaisquer hipóteses;
- Proibição de obras derivadas (o trabalho não poderá ser reescrito por terceiros. Apenas textos originais são considerados);
- Distribuição, exibição e cópia ilimitada por qualquer meio, desde que nenhum custo financeiro seja repassado.
Em nenhuma ocasião a licença de Extraprensa poderá ser revertida para outro padrão, exceto uma nova atualização do sistema Creative Commons (a partir da versão 3.0). Em caso de não concordar com esta política de Direito Autoral, o autor não poderá publicar neste espaço o seu trabalho, sob pena de o mesmo ser removido do conteúdo de Extraprensa.