Filologia como curadoria: o caso Pessoa
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v18i2p231-262Palavras-chave:
Filologia. Curadoria. Administração de textos. Patrimônio. Coautoria sui generis. Esemplastic Power. Ineinsbildung.Resumo
O argumento desenvolvido ao longo deste ensaio consiste em defender que a filologia é curadoria textual. Com efeito, “curar de” significa “administrar o patrimônio de outrem”; ora, editar um texto é uma atividade segundo a qual o filólogo administra um patrimônio, ou seja, o texto que se tem em vista editar, de outrem, o respetivo autor; logo, o filólogo é um curador textual. Esta afirmação encerra, contudo, duas dificuldades que são abordadas ao longo deste estudo, e que podem ser expressas a partir das seguintes perguntas: Como se administra um patrimônio incorpóreo? Como administrar textos que se encontrem em situações semelhantes às da maior parte dos textos que compõem a obra de Fernando Pessoa, que são incompletos por inacabamento e não por partes dos mesmos se terem perdido? Nestes casos, é preciso entender que o filólogo, não deixando de ser curador, acaba por ter que assumir uma posição de coautoria sui generis, visto que a edição/administração deste tipo de textos implica a tomada de decisões que tipicamente são feitas pelos autores de obras literárias.Downloads
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