A propagação do você pelas estruturas sociais: uma análise linguístico-social entre os séculos XIX e XX.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v24i1p91-110

Palavras-chave:

Variação tu/você, Mudança linguística, Sistema pronominal, Segunda pessoa, Relações sociais simétricas e assimétricas

Resumo

A proposta principal deste trabalho é a de descrever analiticamente as estratégias de referência ao sujeito de 2SG (vossa mercê, você, tu), correlacionando-as às relações sociais que as embasam na produção escrita mineira dos séculos XIX e XX, à luz da Teoria do Poder e da Solidariedade (BROWN & GILMAN, 1960), dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Histórica (HERNÁNDEZ-CAMPOY & SHILLING, 2012) e da Sociolinguística Variacionista (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1994). Assumimos como hipótese o fato de o você ser mais produtivo do que o tu, cf. Lopes et alii (2018), Lopes & Rumeu (2015), Rumeu (2020), em amostras históricas dos séculos XIX e XX. Com base na produção escrita de redatores brasileiros entre os séculos XIX e XX, observamos que as formas tu e você predominam nas relações simétricas, o que sugere o encaminhamento da sociedade brasileira pelos domínios da Solidariedade (BROWN & GILMAN, 1960), ao passo que o vossa mercê se deixa evidenciar restrito às relações assimétricas ascendentes (de inferior para superior), cf. Lopes & Rumeu (2015).

 

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Barata CEA, Bueno AHC. Dicionário das famílias brasileiras. São Paulo: Ibero-América; 2000. (Vol. 1 e 2).

Barbosa AGB. Tratamento dos corpora de sincronias passadas da língua portuguesa no Brasil: recortes grafológicos e linguísticos. In: Lopes CRS, organizadora. A norma brasileira em construção: fatos linguísticos do século 19. Rio de Janeiro: UFRJ, FAPERJ; 2005. p. 25-43.

Barbosa AGB. Fontes escritas e história da língua portuguesa no Brasil: as cartas de comércio no século XVIII. In: Lima IS, Carmo L, organizadores. História social da língua nacional. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa; 2008. p. 181-211.

Brown R, Gilman A. The pronouns of power and solidarity. In: Sebeok TA, editor. Style in language. Cambridge-Mass: MIT Press, 1960; p. 253-276.

Coelho MSV. Uma abordagem variacionista do uso da forma você no Norte de Minas [dissertação]. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais; 1999.

Conde-Silvestre JC. Sociolingüística Histórica. Madrid: Gredos; 2007.

Cunha CA. Questão da norma culta. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; 1985.

Duarte MEL. A perda do princípio ‘evite pronome’ no português brasileiro [tese]. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas; 1995.

Faraco C. O tratamento “você” em português: uma abordagem histórica. LaborHistórico, 2018;3(2), 114-132.

Ficheiro: mesorregiões de Minas Gerais [mapa/internet]. [citado 28 jun. 2020]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mesorregi%C3%B5es_de_Minas_Gerais.svg.

Gonçalves CR. Uma abordagem sociolinguística do uso das formas você, ocê e cê no português [tese]. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo; 2008.

Herênio KKP. Tu e você em uma perspectiva intra-linguística [dissertação]. Uberlândia: Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia; 2006.

Hernández-Campoy JM, Conde-Silvestre, JC. The handbook of Historical Sociolinguistics. Nova Jersey, EUA: Wiley-Blackwell; 2012.

Hernández-Campoy JM, Schilling N. The application of the quantitative paradigm to Historical Sociolinguistics: problems with the generalizability principle. In: Hernández-Campoy JM, Conde-Silvestre JC. The handbook of Historical Sociolinguistics. Nova Jersey, EUA: Wiley-Blackwell; 2012. p. 63-79.

Labov W. Principles of linguistic change: internal factors. Cambridge: Blackwell Publishers; 1994. (Vol. 1).

Lima AX, Marcotulio LL, Rumeu MCB. Experiências metodológicas em constituição de corpora: pistas para um pesquisador iniciante. In: Castilho AT, organizador. História do português brasileiro: corpus diacrônicos do português brasileiro. São Paulo: Contexto; 2019. p. 68-91. (Vol. 2).

Lopes CRS. A inserção de a gente no quadro pronominal do português: seu percurso histórico [tese]. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1999.

Lopes CRS, Cavalcante SR. A cronologia do voceamento no português brasileiro: expansão de você-sujeito e retenção do clítico-te. Linguística, 2011;25:30-65.

Lopes CRS, et al. Sobre norma e tratamento em cartas a Rui Barbosa. In: Aguilera VA, organizadora. Para a história do português brasileiro. Londrina: EDUEL; 2009. p. 45-92.

Lopes CRS, et al. Reflexões metodológicas para a análise sociocultural de redatores em corpora históricos. Gragoatá, 2010;29:239-253.

Lopes CRS, et al. A reorganização do sistema pronominal de 2ª pessoa na história do português brasileiro: a posição de sujeito. In: Castilho AT, organizador. História do português brasileiro: mudança sintática das classes de palavra – perspectiva funcionalista. São Paulo: Contexto; 2018. p. 24-140.

Lopes CRS, Machado ACM. Tradição e inovação: indícios do sincretismo entre a segunda e a terceira pessoas nas cartas dos avós. In: Lopes CRS, organizadora. A norma brasileira em construção: fatos linguísticos em cartas pessoais do século 19. Rio de Janeiro: UFRJ, FAPERJ; 2005. p. 45-66.

Lopes CRS, Rumeu MCB. O quadro de pronomes pessoais do português: as mudanças na especificação dos traços intrínsecos. In: Castilho AT, et al., organizadores. Descrição, história e aquisição do português brasileiro. Campinas: Pontes, FAPESP; 2007. p. 419-436.

Lopes CRS, Rumeu, MCB. A difusão do você pelas estruturas sociais carioca e mineira dos séculos XIX e XX. LaborHistórico, 2015;1(1):12-25.

Lopes CRS, Rumeu MCB. A identificação dos perfis socioculturais dos redatores de corpora históricos: encaminhamentos metodológicos. Diadorim, 2018;20:147-168.

Lopes CRS, Vianna JBS. A competição entre nós e a gente nas funções de complemento e adjunto: desvendando outras portas de entrada para o pronome inovador. Caligrama: Revista de Estudos Românicos, 2012:17(2):137-161.

Martins Filho AV. Novo dicionário biográfico de Minas Gerais: 300 anos. Belo Horizonte: Instituto Cultural Amilcar Martins; 2013.

Mota A. A variação dos pronomes ‘tu’ e ‘você’ no português oral de São João da Ponte (MG) [dissertação]. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais; 2008.

Oushiro, L. Tratamento de dados com o R para análises sociolinguísticas. In: Freitag RMK, organizadora. Metodologia de coleta e manipulação de dados em Sociolinguística. São Paulo: Editora Edgard Blücher; 2014. p.133-176.

Peres EP. O uso do você, ocê, cê em Belo Horizonte: um estudo em tempo aparente e em tempo real [tese]. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais; 2006.

Reis ZM. A variação ‘tu’ e ‘você’ no português falado e escrito em Lontra (MG) [dissertação]. Montes Claros: Universidade Estadual de Montes Claros; 2019.

Romaine S. Socio-historical linguistics: its status and methodology. New York: Cambridge University Press; 2010.

Rumeu MCB. Para uma história do português no Brasil: formas pronominais e nominais de tratamento em cartas setecentistas e oitocentistas [dissertação]. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2004.

Rumeu MCB. Língua e sociedade: a história do pronome “você” no português brasileiro. Rio de Janeiro: Ítaca, FAPERJ; 2013.

Rumeu MCB. Variation in the paradigms of ‘tu’ and ‘você’ subject and complements in letters from Minas Gerais, Brazil, 1860-1989. In: Hummel M, Lopes CRS, organizadores. Address in Portuguese and Spanish. 1.ª ed. GmbH, Berlin/Munich/Boston: De Gruyter; 2020. p. 227-249.

Scherre MMP, et al. Usos dos pronomes você e tu no português brasileiro. II Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa, 6-11 out. 2009; Évora, Portugal. Évora: Universidade de Évora; 2009.

Scherre MMP, et al. Variação dos pronomes “tu” e “você”. In.: Martins MA, Abraçado J, organizadores. Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. São Paulo: Contexto; 2015. p.133-172.

Silva FC. Barões do ouro e aventureiros britânicos no Brasil. 1.ª ed. São Paulo: EDUSP; 2012.

Silva SC. A variação dos pronomes tu e você na fala mineira de Ressaquinha (MG) [dissertação]. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto; 2017.

Soto EUMS. Variação/mudança do pronome de tratamento alocutivo: uma análise enunciativa em cartas brasileiras [tese]. Araraquara: Faculdade de Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; 2001.

Soto EUMS. Cartas através do tempo: o lugar do outro na correspondência brasileira. Niterói: Ed. da UFF; 2007.

Souza EQ. As formas de referência ao sujeito de 2ª pessoa do singular em missivas mineiras dos séculos XIX e XX: uma análise linguístico-social [dissertação]. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais; 2021.

Souza JPF. Mapeando a entrada do você no quadro pronominal: análise de cartas familiares dos séculos XIX-XX [dissertação]. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2012.

Wardhaugh R. Solidarity and politeness. In: Wardhaugh R, organizador. An introduction to sociolinguistics. Oxford: Blackwell; 2006[1986]. p. 255‐279.

Weinreich U, Labov W, Herzog MI. Empirical foundations for a theory of language change. In: Lehmann W, Malkiel Y, organizadores. Directions for historical linguistics. Texas: University of Texas Press; 1968. p. 97-188.

Downloads

Publicado

2022-03-15

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Souza, E. Q. de, & Rumeu, M. C. de B. (2022). A propagação do você pelas estruturas sociais: uma análise linguístico-social entre os séculos XIX e XX. Filologia E Linguística Portuguesa, 24(1), 91-110. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v24i1p91-110