O antiflâneur de “Walking Around”: errância e estranhamento na cidade
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2594-7753.lajunta.2018.145744Palavras-chave:
Neruda, poesia, vanguarda, flâneurResumo
A poesia do século XIX consagrou como um de seus arquétipos literários representativos a figura do flâneur, caminhante observador que encarna o espírito do homem curioso que, sem destino certo, vaga pela cidade surpreendido com a variedade da paisagem urbana. O flâneur ganhou destaque na poesia de Charles Baudelaire. No século XX, mais precisamente no poema “Walking Around”, Pablo Neruda redesenha os contornos do flâneur, a partir do olhar da vanguarda. Ressurge nos versos do poeta chileno a figura do homem que caminha pela cidade. Este, porém, diferente do andarilho do século anterior, já não é um observador apaixonado, mas um antiflâneur. Sua relação com o espaço urbano não é mais de admiração, mas de choque permanente. A sintonia passou à dissonância; a curiosidade deu lugar ao estranhamento e o deleite do ócio tornou-se cansaço. O poeta, antes observador unilateral, sofre agora a ação dos objetos do mundo, sentindo o cansaço, a angústia e a culpa de seu tempo.