Dossiê Temático 37/2: Linguística e letramento(s) em saúde: cruzando perspectivas
A presente chamada tem como foco o letramento em saúde, também designado em português europeu por literacia em saúde. Este conceito refere-se à motivação e conjunto das capacidades que cada indivíduo possui, ou deveria possuir, para aceder, compreender, avaliar e utilizar a informação sobre saúde. O letramento em saúde é, assim, atualmente reconhecido como um eixo determinante da saúde pública.
Para além da importância como porta de acesso ao direito à educação em saúde, o letramento em saúde também contribui para a melhoria da vida dos indivíduos, através da expansão das suas capacidades cognitivas e mudanças comportamentais.
Porém, e apesar de o acesso à informação sobre saúde ser hoje relativamente fácil, vários questionários internacionais de avaliação do letramento em saúde concluem que uma vasta maioria dos indivíduos sente dificuldade em compreender a informação. Entender o discurso de um profissional de saúde, assimilar as indicações acerca da toma de medicamentos, compreender os resultados de exames de diagnóstico ou, ainda, ler e preencher um consentimento informado antes de um ato médico são alguns exemplos dos desafios apresentados na literatura relativa a este tema.
Estudos internacionais mostram que há forte correlação entre a educação, o nível de letramento e o estado de saúde, indicando que existe, de facto, uma ligação entre o letramento dos indivíduos e a respetiva capacidade em compreender, argumentar, questionar ou simplesmente atuar em relação à sua saúde.
Por outro lado, o letramento em saúde é considerado um fator essencial da ação para a cidadania, por via da capacitação, da tomada de decisão informada e do estímulo para a autonomia na prevenção e gestão da própria saúde. Em suma, tem por base a noção de engagement (envolvimento ativo) do cidadão, visando a obtenção de impactos benéficos para a sociedade, tais como promover a equidade no acesso aos cuidados de saúde e contribuir para a sustentabilidade dos mesmos.
Neste âmbito, o contributo das ciências da linguagem enquanto pilares na construção de um letramento em saúde cada vez mais eficaz, eficiente e, sobretudo, humanizado, assume-se como primordial.
Tendo em conta o enquadramento supra, pensamos ser de grande relevância dedicar um número especial à temática do letramento em saúde, pondo em evidência as suas diversas perspectivas e formas, daí que tenhamos escolhido falar em letramento(s) em saúde.
Com vista à partilha de conhecimentos e estímulo à reflexão, incentivamos o envio de artigos originais. Apelamos ao contributo dos especialistas, investigadores e estudantes cujos estudos ou resultados de trabalhos académicos estejam relacionados com a temática. Contamos, em especial, com estudos inter- ou multidisciplinares, nos quais seja dado relevo ao contributo das ciências da linguagem, da comunicação para a promoção do(s) letramento(s) em saúde.
Os artigos poderão ser de cariz teórico, metodológico ou orientados para a apresentação de resultados, desde que a perspectiva geral esteja centrada no cidadão/paciente, podendo abarcar quer formatos mais tradicionais, quer outros mais orientados para a literacia digital em saúde.
Os enfoques poderão ser diversos, tais como:
- a análise linguística dos diversos usos da língua, através de estudos lexicais, semânticos e morfossintáticos;
- a descrição de fenómenos gramaticais, discursivos e textuais, com vista à análise argumentativa e/ou descritiva;
- a análise da fraseologia de especialidade, recorrente na área da saúde;
- o recurso à vulgarização do discurso para efeitos de eficácia na comunicação;
- o exercício de vulgarização da terminologia, mantendo a precisão e a adequação ao propósito da comunicação;
- a aplicação de técnicas de simplificação e clareza da língua (plain language);
- a mediação dos discursos entre profissionais/pacientes e pacientes especialistas/pacientes
- a criação de recursos terminológicos e glossários com explicações ou definições simples e claras;
- o recurso a diferentes formas de organização do conhecimento para ajudar à compreensão de conceitos ligados à saúde;
- a concepção de materiais informativos para o letramento em saúde, dirigidos aos diversos perfis dos utilizadores e com base na avaliação das suas necessidades;
- a criação de conteúdos para storytelling, ou para podcast como formatos alternativos de veicular informação em saúde;
- o recurso às técnicas da medicina narrativa, como prática ancorada na atenção à linguagem e às histórias, com base nas experiências vividas e relatadas pelos pacientes;
- a aplicação de instrumentos de avaliação do letramento em saúde para observar aspetos de compreensão ou percepção da informação em saúde.
A Linha D’Água aceita trabalhos em português, inglês, francês ou espanhol. Esta revista está indexada em: Web of Science - Clarivate (ESCI), MLA, MIAR, Latindex, REDIB, Linguistic Bibliography, DOAJ, dentre outros.
Prazo de submissão encerrado em 31 de outubro de 2023.
Previsão de publicação: junho de 2024.
Para acessar as normas para submissão, clique em https://www.revistas.usp.br/linhadagua/about/submissions
Editoras convidadas:
Raquel Silva
raq.silva@fcsh.unl.pt / raquel.silva@vohcolab.org
NOVA CLUNL – Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa / Portugal.
VOH.CoLAB – Laboratório Colaborativo Value For Health CoLAB / Portugal.
Sara Carvalho
sara.carvalho@ua.pt
NOVA CLUNL – Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa / Portugal.
CLLC - Centro de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Aveiro / Portugal.