Faça você mesmo(a): forma objetiva — território de luta crítica

Autores

  • Luiz Renato Martins Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i41p246-272

Palavras-chave:

modernização econômica tardia acelerada, forma objetiva, substância prático-histórica, condensação estética dos ritmos sociais, arte brasileira pós-1964

Resumo

Nos debates sobre a modernização periférica tardia, Roberto Schwarz estabeleceu a forma objetiva (1991) como constructo que fornece os elos rítmicos e invisíveis entre o domínio sócio-histórico e o estético. Ela consiste, segundo Schwarz, numa forma que compreende "uma substância prático histórica" (1991), ou, como diria depois, que atua como o "nervo social da forma de arte" (1997). Ao conectar a experiência social preexistente e a forma esteticamente construída, a forma objetiva vale como um contrato social, legitimando a forma estética. Encomendado social e historicamente por um sujeito coletivo e impessoal, tal constructo distingue-se do ecletismo pós-moderno desconectado do processo histórico. A forma objetiva oferece inteligibilidade crítica ante a matéria histórico-social apenas se, e quando, tomada como forma intrínseca à esfera estética; vale dizer, noutros termos, que o problema da condensação estética dos ritmos sociais repõe-se concreta e incessantemente — na produção e recepção — sempre que necessário retraçar os elos recíprocos entre as formas artísticas e as sócio-históricas. Desse modo, o exercício da intuição estética e da reflexão crítica, em interação com os materiais artísticos, é crucial à objetivação e à explicitação  da síntese  com  a  matéria  sócio-histórica — do  contrário, inapreensível  nas conexões intrínsecas da percepção e da reflexão com a objetividade e a dinâmica históricas. Há coisas, em suma, que apenas na arte emergem e a tornam ferramenta indispensável à reflexão histórica dialética. Nesse sentido,  este  trabalho  busca reler  certas respostas críticas que a arte e a arquitetura brasileiras (Antonio Dias, Amilcar de Castro e Mendes da Rocha) deram ao golpe civil-militar de 1964 e à modernização tardia acelerada a seguir. E, por fim, relê também a instalação contemporânea Roda Gigante (2019, Carmela Gross) — um constructo arquitetônico negativo que totalizou o trágico momento brasileiro, sob domínio da ultradireita, com rara clareza e pungência épica.

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Biografia do Autor

  • Luiz Renato Martins, Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes

    Luiz Renato Martins é autor de The Long Roots of Formalism in Brazil (Chicago, Haymarket, 2019). Trabalha como pesquisador e professor-orientador do programa de pós-graduação em Artes Visuais da Universidade de São Paulo.  

Referências

João Cabral de MELO NETO, “Morte e Vida Severina/ Auto de Natal Pernambucano 1954-1955”, in idem, Obra Completa, volume único, ed. org. por Marly de Oliveira com a assistência do autor, Rio de Janeiro: Biblioteca Luso-Brasileira/ Nova Aguilar, 1999, p. 178.

Carmela GROSS, RODA GIGANTE, curadores: Paulo Miyada e André Severo (Porto Alegre, Farol Santander, 26.03 — 23.06.2019). Para documentação e discussão detalhada, ver C. GROSS e L. R.

MARTINS, RODA GIGANTE, apres. P. Miyada, São Paulo, Ed. Circuito/ Ed. WMF Martins Fontes, 2021. 42 Iniciado em 1927 e concluído em 1931, o edifício serviu de sede sucessivamente para os bancos da Província, Nacional do Comércio, Sul Brasileiro e Meridional, antes de adquirir em 2001 a destinação atual, intitulado como Farol Santander.

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Publicado

2025-10-09

Como Citar

Martins, L. R. . (2025). Faça você mesmo(a): forma objetiva — território de luta crítica. Literatura E Sociedade, 32(41), 246-272. https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i41p246-272