Uma educação pelo "mato": a resiliência da vegetação ruderal e a experiência estética em práticas de paisagismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2359-5361.paam.2023.223695

Palavras-chave:

vegetação ruderal, espaços residuais , ensino de paisagismo

Resumo

O artigo investiga a dimensão sensível da flora ruderal no meio urbano. Trata-se de espécies de ciclos breves e ocorrência pioneira em ambientes fortemente perturbados. Suas interações se diluem na flutuação inefável de pólen, esporos e sementes. A diversidade de arranjos que configuram desponta em espaços igualmente indestinados, sem uso ou manutenção, ou refugos fundiários decorrentes da produção das cidades. Sob a designação genérica, e usualmente depreciativa, de “mato”, a flora ruderal apresenta insistentemente qualidades a serem apreciadas e discutidas: os valores de persistência, vigor e renovação inerentes a táticas de sobrevivência. Porque essas plantas também fazem mundos (Coccia, 2018a), pressupomos que o reconhecimento de seus processos e dinâmicas, associado à percepção direta dos fenômenos que lhes correspondem, favorece o desenvolvimento de pedagogias diversas. Apostando numa educação de sensibilidade, atinente à consciência que antecede o conhecimento intelectivo (Duarte Júnior, 2004), o trabalho reafirma a urgência das experiências estéticas no âmbito da formação, sinalizando alternativas à visão comumente difundida da flora ruderal e ao revigoramento do repertório botânico, de associações florísticas e de métodos de gestão à disposição de práticas de ensino/aprendizagem em paisagismo.

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Biografia do Autor

  • Arthur Simões Caetano Cabral, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus de Bauru

    Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2014), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2017) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2020). Atualmente é professor efetivo da UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus de Bauru, pesquisador junto ao Laboratório Paisagem, Arte e Cultura - LABPARC FAU-USP - e avaliador na revista Paisagem e Ambiente: Ensaios da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, atuando principalmente nos seguintes temas: paisagem e ambiente, projeto de paisagismo, espaços livres públicos, poética da paisagem, imaginário e representações.

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Publicado

2023-08-25

Dados de financiamento

Como Citar

Cabral, A. S. C. (2023). Uma educação pelo "mato": a resiliência da vegetação ruderal e a experiência estética em práticas de paisagismo. Paisagem E Ambiente, 34(52), e223695. https://doi.org/10.11606/issn.2359-5361.paam.2023.223695