Louça, lençol e toalha: a intimidade limitada como repertório de demarcação na relação entre diaristas e suas clientes
DOI:
https://doi.org/10.11606/khtb8h67Palavras-chave:
trabalho doméstico, diaristas, intimidade, gênero, raçaResumo
A partir de uma etnografia realizada entre 2019 e 2021 junto a um coletivo de faxineiras em Belo Horizonte-MG, este artigo se propõe a refletir sobre as estratégias de atuação dessas trabalhadoras face às históricas e estruturais desigualdades existentes no trabalho doméstico remunerado no Brasil. A pesquisa foi marcada pelo período da pandemia de Covid-19, que trouxe uma série de dificuldades para realização da etnografia, e sobretudo para as diaristas com quem pude dialogar. Ao longo do trabalho de campo multissituado, foi possível observar como a relação entre reconhecimento profissional e distanciamento da intimidade é um aspecto central na proposta política dessas trabalhadoras. A luta por um trabalho doméstico remunerado livre de exploração, antirracista e que valorize o trabalho de diarista se concretiza nas próprias práticas de negociação e no cotidiano do trabalho, a partir da demarcação de certos limites e do estabelecimento de relações pedagógicas entre clientes e trabalhadoras.
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