Saberes (des)sujeitados: uma introdução aos estudos transgênero
Resumo
Em 1995 eu me encontrava na fila, esperando minha vez para falar no microfone no Auditório Proshansky do Centro de Pós-Graduação da City University of New York. Estava participando de uma conferência chamada “História Lésbica e Gay”, organizada pelo Centro de Estudos Lésbicos e Gays (CLAGS). Eu havia acabado de assistir a um painel de debates sobre “gênero e o papel homossexual”, moderado por Randolph Trumbach e que tinha como palestrantes Will Roscoe, Martha Vicinus, George Chauncey, Ramon Gutierrez, Elizabeth Kennedy e Martin Manalansan. Ouvira muitas coisas interessantes sobre bichas e berdaches (como indígenas norte-americanes12 two-spirit ainda eram chamades), Corn Mothers3 e molly-houses4, amizades femininas passionais, díades butch-femme5, e a diáspora de gays do sudeste asiático, mas ainda assim estava de pé na fila para protestar. Cada ume des palestrantes era uma celebridade intelectual a seu modo, mas não eram, a meu ver, um grupo muito diverso em termos de gênero. Da minha perspectiva, com uma identidade transexual recém-reivindicada, todes elus pareciam um pouco a mesma coisa: pessoas não-transgênero. Uma nova onda de pesquisas transgênero, parte de um movimento intelectual queer mais amplo, já registrava alguns anos de vida naquele momento. Por que não havia palestrantes transgênero na discussão? Por que o debate inteiro sobre “diversidade de gênero” havia sido englobado por considerações sobre desejo sexual – como se o único motivo para expressar gênero fosse sinalizar os modos de atração e disponibilidade de uma pessoa para potenciais parceires sexuais?
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Copyright (c) 2021 Susan Stryker; Luiza Ferreira Lima
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