Mito, antropologia e teatro: entrevista com o antropólogo Pedro Cesarino
DOI:
https://doi.org/10.4000/pontourbe.1663Palavras-chave:
mito, teatro, antropologiaResumo
O antropólogo Pedro Cesarino, doutor pelo Museu Nacional (UFRJ) e professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), fez uma livre recriação para dramaturgia de uma narrativa mítica cantada, Kaná Kawã, do povo Marubo, população pano do Vale do Javari, na fronteira com o Peru. A recriação dramatúrgica, Raptada pelo Raio, que parte de uma tradução do original feita também por ele, foi encenada pela Companhia Livre, sob direção da premiada Cibele Forjaz. Ficou em cartaz na cidade de São Paulo durante 2010, ano em que o espetáculo foi também apresentado em outras cidades brasileiras, tais como Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte. O mito conta a história de uma mulher que tem sua alma ou “duplo” raptado pelos espíritos do raio. Seu marido faz uma viagem pelo cosmos para tentar recuperá-la de volta, enfrentando diversas batalhas com o auxílio de povos estranhos. O espetáculo procura trazer algo destes mundos invisíveis e outros. Numa das cenas, o espectador deita numa rede e tem os seus olhos tapados com máscaras que aludem aos trabalhos da artista Lygia Clark. É como se nossa sociedade, marcada pela hegemonia do sentido da visão, procurasse cada vez mais alteridades sensoriais onde “o não ver” possa revelar “outras formas de ver”. Nesta entrevista, o antropólogo fala da experiência com o trabalho de dramaturgia para uma companhia de teatro de grupo de São Paulo, comentando ainda outros assuntos tais como a relação entre vivos e mortos, os limites da finitude e do humano e a relação entre tradição e modernidade. Reflete também sobre o aumento do interesse ocidental pelo xamanismo amazônico, as continuidades e descontinuidades entre o fazer antropológico e a criação artística, os desafios das “traduções” e a questão da autoria. Por fim, coloca em perspectiva as relações entre as poéticas ameríndias e a literatura ocidental, assim como entre antropologia e teatro.
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Referências
Cesarino, Pedro Niemeyer. Oniska: a poética da morte e do mundo entre os Marubo da Amazônia ocidental. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Museu Nacional/UFRJ, 2008.
Gow, Peter. “River People: Shamanism and History in Western Amazonia”, in: Thomas, Nicholas e Humphrey, Catherine (orgs.). Shamanism, History and the State. Ann Harbor, The University of Michigan Press, 1996, pp. 90-113.
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