Os indesejáveis da Praça da Sé (SP): uma aproximação etnográfica
DOI:
https://doi.org/10.11606/zq5hv517Palavras-chave:
método etnográfico, Praça da Sé, vadiagemResumo
Em um projeto de pesquisa e intervenção em uma praça pública da região metropolitana de São Paulo com a temática do desemprego e geração de renda, constatou-se que as representações acerca da vadiagem têm sido um tema presente no discurso de segmentos populares acerca do mundo do trabalho, conferindo-lhe sua atualidade. Neste contexto, a responsabilidade pela situação do trabalhador ou pela falta de trabalho era relegada ao indivíduo que não se esforçava o suficiente para procurar emprego, não queria se qualificar ou ainda não aceitava “serviço pesado” em um mercado de trabalho em que “há empregos para todos aqueles que realmente querem trabalhar”. O presente texto tem por objetivo investigar se na Praça da Sé, localizada na área central da cidade de São Paulo (SP), esse discurso acerca do mundo do trabalho e da “figura do vadio” também aparece. Partimos aqui de um “olhar de perto e de dentro”, em que a cidade é tomada não como mero cenário, mas como parte constitutiva e determinante das práticas dos seus moradores que, através de suas redes, formas de sociabilidade, estilos de vida, deslocamentos e conflitos, dão vida à metrópole e são considerados como atores sociais. Embora seja pequeno o número de entrevistas realizadas na Praça da Sé, constatou-se que o trabalho constitui-se como um valor central, sendo sua falta percebida como responsabilidade do próprio indivíduo, o que coloca em relevo a questão da vadiagem enquanto um modo de vida que contesta a apologia (capitalista) do trabalho.
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