“Lelé da cuca, mas ela continua”: pessoa, identidade pessoal e interioridade frente à doença de Alzheimer

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/pontourbe.15623

Palavras-chave:

subjetividade, pessoa, identidade, doença de alzheimer, memória

Resumo

Verdade, vontade e interioridade. Eis os três elementos fundamentais da categoria de pessoa moderna que sustentam a imagem da identidade pessoal como a temos desenhado no último século. Mas o que acontece quando uma destas dimensões se rompe? Como as outras se articulam? Qual a possibilidade de sustentação desta noção identidade diante deste processo? Este artigo busca aprofundar estas questões a partir da experiência familiar do próprio autor frente à doença de Alzheimer de sua avó. Dona Cida possui o diagnóstico há aproximadamente seis anos e, durante este período, suas memórias se perderam. Também houve alterações significativas em seu comportamento. Com isso, frequentemente emergem dúvidas sobre a essência e a verdade que habitam aquele corpo. Será que Dona Cida perdeu quem era? O afrouxamento de suas memórias e das normas sociais que foram calcadas em seu psiquismo durante sua vida agora possibilitam a ela se mostrar como realmente é?

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Biografia do Autor

  • João Balieiro Bardy, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Graduado em Sociologia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (IFCH-Unicamp), Mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Unicamp (PPGAS-Unicamp) e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-UFRJ).

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Publicado

2023-12-26

Como Citar

Bardy, J. B. . (2023). “Lelé da cuca, mas ela continua”: pessoa, identidade pessoal e interioridade frente à doença de Alzheimer. Ponto Urbe, 31(2), 1-18. https://doi.org/10.4000/pontourbe.15623