Abeirando-se do misticismo do “mundo perdido”: nas trilhas do Monte Roraima
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-3341.pontourbe.2024.226826Resumo
O Monte Roraima é uma montanha localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Trata-se de uma das montanhas mais antigas do mundo e sua altitude é de 2.810 metros. Sua paisagem exuberante e única atrai aventureiros e turistas de todo o mundo, além de ser um local sagrado para os povos indígenas da região, sobretudo o povo Pemón. (Guilherme, 2008; Oliveira, 2002)
O Roraima é uma formação rochosa do tipo tepui. Tais formações possuem características típicas, como: topo plano, paredes verticais e inúmeras nascentes. São compostos principalmente por rochas sedimentares e têm uma idade geológica estimada em cerca de dois bilhões de anos. Essas montanhas são extremamente importantes para a região em termos de biodiversidade, abrigando uma grande variedade de espécies endêmicas. (Oliveira, 2002; Salgado-Labouriau, 1998).
A comunidade Pemón habita há séculos nas proximidades do Roraima e mantém uma relação íntima com a montanha. A rocha é considerada a casa dos espíritos, um lugar onde é possível se comunicar com os deuses e ancestrais. Sua história e suas lendas são passadas de geração em geração, através de suas tradições orais e rituais sagrados. Acredita-se que a montanha é habitada por seres sobrenaturais, como os Mawari, espíritos guardiões da floresta, e os Yuruparí, espíritos dos antepassados. (Oliveira, 2002).
Para os Pemón, o Roraima é um lugar de peregrinação e culto. Realizam-se rituais sagrados no topo da montanha, oferecendo presentes e pedindo proteção e bênçãos aos deuses e espíritos. Ademais, a montanha também é utilizada para a coleta de plantas medicinais e para a caça, atividades essenciais para a sobrevivência da comunidade.
Ao lado do Roraima encontra-se o Kukenan, formação não menos imponente. Kukenan é visto como o irmão mais novo do Roraima e possui relevância mística considerável. De acordo com as lendas da comunidade, o Kukenan é habitado por um espírito feminino poderoso, chamado de “Mãe do Mundo”. Nas suas encostas formam-se de maneira perene cachoeiras colossais, entre elas, a quarta queda mais alta do mundo já documentada.
Para além dos aspectos descritos, o Roraima tem uma ligação interessante com a literatura e, em especial, com o autor britânico Arthur Conan Doyle. Em 1882, Doyle foi contratado como médico de bordo de um navio que viajou pela América do Sul. Durante essa viagem, ele visitou a região do Monte Roraima e ficou impressionado com a paisagem e a história da montanha. Ele anotou suas impressões em seu diário de viagem, descrevendo o local como "uma das coisas mais estranhas e maravilhosas do mundo". Mais tarde, em 1912, Doyle publicou o livro "O Mundo Perdido", que conta a história de uma expedição que se aventura em uma montanha isolada na Amazônia em busca de dinossauros vivos. Embora a montanha descrita no livro seja fictícia, muitos acreditam que o Monte Roraima serviu como inspiração para o autor. (Doyle, 2019)
As imagens que compõem este ensaio foram selecionadas de um conjunto de fotografias capturadas ao longo de três expedições etnográficas no Monte Roraima, nos anos de 2009, 2011 e 2018. Foram experiências únicas que buscam analisar práticas de lazer na natureza em territórios indígenas, vislumbrando sobretudo descrever a relação dos povos tradicionais com sua ancestralidade territorial e seus possíveis conflitos e disputas com as práticas de turismo ostensivo.
Referências
DOYLE, A. C. O mundo perdido. Editora: Principis, 2019, 240p.
GUILHERME, A. M. Roraima, o ponto mais alto do Brasil. IBEP Nacional, 2008.
OLIVEIRA, J. P. Pemón: Povo Indígena do Parque Nacional Canaima. Funai, 2002.
SALGADO-LABOURIAU, M. L. Geologia do Parque Nacional do Monte Roraima. Sociedade Brasileira de Geologia, 1998.
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