O modernismo e o núcleo fabril: o anteprojeto de Lúcio Costa para monlevade
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v0i14p80-93Palavras-chave:
Monlevade, Lúcio Costa, habitação operária, núcleo fabril, arquitetura moderna, urbanismo modernoResumo
O anteprojeto concebido pelo arquiteto Lúcio Costa para o concurso promovido em 1934 pela siderúrgica Belgo-Mineira, para Monlevade, promove uma articulação entre a forma dos núcleos fabris e os postulados da arquitetura moderna. A proposta revela influências do pensamento de Gilberto Freyre, que se evidenciam na recuperação da noção de "plasticidade" como uma qualidade essencial ao plano, expressa pelo "delineamento elástico" pretendido pelo arquiteto. A mistura de técnicas construtivas modernas e tradicionais nos projetos arquitetônicos pode ser entendida como uma manifestação contemporânea da qualidade "plástica", tão celebrada por Freyre em relação à nossa arquitetura residencial colonial. O arquiteto recupera também princípios básicos que costumavam reger a organização espacial de núcleos fabris: dispersão, neutralização das ruas, moradias econômicas, higiênicas e protegidas dos estranhos. Trata a casa como lugar de repouso e vida familiar, enquanto investe contra a noção da rua como lugar de convívio. Propõe que a Belgo-Mineira exerça ingerência direta sobre o mobiliário e a decoração das moradias, sugerindo a reedição de procedimentos comuns nos núcleos fabris: controle da empresa sobre o comércio e sua intromissão na ordem doméstica. Os projetos dos prédios de uso coletivo promovem um encontro entre os propósitos de economia e sinceridade, presentes no discurso das vanguardas, e a lógica contábil do utilitarismo fabril. Essa atitude indica não apenas o empenho do projetista em traduzir as demandas da Belgo-Mineira, como os vínculos existentes entre os núcleos fabris - com suas contribuições para a definição do hábitat proletário moderno e a neutralização da rua - e a idéia de moradia de massa proposta pelas vanguardas modernistas.Downloads
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