Experiências em concreto armado na áfrica portuguesa: influências do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v0i25p56-79Palavras-chave:
Concreto armado, arquitectura moderna na África portuguesa, arquitectura moderna no BrasilResumo
Existe uma proximidade entre a cultura moderna brasileira e Portugal, que pode ser identificada pelas influências sentidas na produção arquitectónica portuguesa. Genericamente, estas relações iniciaram-se com Brazil builds - Architecture new and old 1652-1942, que os portugueses conhecem desde meados da década de 1940, progredindo até à inauguração de Brasília que marca o declínio do interesse português na arquitectura do Brasil. As qualidades plásticas da arquitectura brasileira - consequência do uso e exploração das potencialidades do concreto armado - podem ser detectadas em alguns exemplos construídos em Portugal durante os anos cinquenta. A influência determinante de Oscar Niemeyer é a mais documentada. Um fenómeno semelhante estendeu-se aos antigos territórios coloniais africanos, onde Portugal manteve soberania até 1975. Aqui, todavia, o interesse na produção brasileira persistiu mais tempo se comparado com a metrópole. Tanto em Angola como em Moçambique assistiu-se a uma forte actividade construtiva durante as décadas de 1950-1960, prolongando-se até ao inicio dos anos setenta onde o recurso ao concreto armado se intensificou como prática dominante. Em alguns casos o seu uso traduziu-se em explorações plásticas originais. O exercício da arquitectura nos antigos territórios da África portuguesa beneficiava de alguma liberdade conceptual e, na generalidade, a qualidade do operariado não se diferenciava daquele que trabalhava no Portugal Ibérico. Dentro do contexto descrito serão aqui apresentados três casos de arquitectos com obra relevante em Angola e Moçambique, que construíram em concreto e, simultaneamente, tiveram ou manifestaram afinidades com a arquitectura brasileira do mesmo período. Em Angola, recorda-se o percurso de Francisco Castro Rodrigues, no Lobito entre 1953 e 1987, e de Fernão Lopes Simões de Carvalho, que permaneceu em Luanda de 1960 a 1967. Em Lourenço Marques (actual Maputo), encontrava-se Amâncio d'Alpoim Miranda Guedes, conhecido por Pancho Guedes, que manteve uma actividade profissional entre 1951 e a data da independência da antiga colónia portuguesa, fixando-se em seguida na África do Sul. Tratando-se de uma área de investigação ainda pouco aprofundada, esta primeira aproximação apoia-se preferencialmente nos testemunhos destes três arquitectos, os primeiros, actualmente a viverem em Portugal e o último entre Lisboa e a África do Sul.Downloads
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