Palavras carnais: sobre re-lembrar e re-esquecer, ser e não ser, entre os Filhos do Erepecuru
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.124811Palavras-chave:
remanescentes de quilombos, ontologia, esquecimento, palavras, corpoResumo
Neste trabalho, exploro o potencial analítico daquilo que Martin Holbraad denomina ‘método ontográfico’, a partir das reflexões dos Filhos do Erepecuru – castanheiros, ribeirinhos e remanescentes de quilombos – acerca do processo de lembrar e esquecer relatos sobre os seus antepassados, e a atuação dessas palavras sobre o corpo. Inicio com uma consideração sobre a importância que os Filhos conferem ao esquecimento dos seus relatos sobre a vinda dos antigos para o rio Erepecuru, município de Oriximiná, Pará. A partir dessa questão etnográfica, descrevo como a necessidade de esquecer e os cuidados inerentes ao ato de lembrar estão relacionados ao poder das palavras de mobilizar forças e sentimentos, curas e doenças, para dentro da pessoa. Tal reflexão etnográfica possibilita sugerir como a linguagem e a experiência são relacionadas pelos Filhos do Erepecuru, e como essa relação opera com base em uma ontologia móvel.
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