Interpelações do vento. Reflexões guarani mbya sobre distanciamento e vulnerabilidade durante e além da pandemia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.203189

Palavras-chave:

Guarani Mbya, Pandemia, Distanciamento, Vulnerabilidade, Covid-19

Resumo

Neste artigo reunimos reflexões e experiências de interlocutoras/es do povo Guarani Mbya com o objetivo de abordar a tópica da vulnerabilidade no contexto da pandemia e para além dela. Particularmente, a Covid e outros adoecimentos são tematizados a partir de reflexões sobre espaços e a relacionalidade que eles produzem (envolvendo pessoas, espíritos e outros agentes ou materialidades) por meio dos fluxos dos ventos. Nossos interlocutores trouxeram à cena questões que os atravessam desde tempos primordiais, mas tornaram-se mais incisivas com as adversidades políticas, sanitárias e ambientais mutuamente implicadas no período pandêmico. Como parte de uma investigação coletiva envolvendo indígenas e não-indígenas, também elaboramos nosso argumento a partir de questionamentos guarani sobre o distanciamento individualizado ou indiscriminado. Em vez de ficarem “cada um em sua casa”, a vida coletiva foi fortalecida nas aldeias, concomitantemente ao afastamento das cidades, suscitando reflexões sobre o manejo da vulnerabilidade nesses espaços.

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Biografia do Autor

  • Valeria Mendonça Macedo, Universidade Federal de São Paulo

    Antropóloga, é professora associada no Departamento de Ciências Sociais e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unifesp, onde leciona desde 2011. Concluiu o mestrado e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. É bolsista de produtividade em pesquisa do Cnpq (Pq2) e pesquisadora associada ao Centro de Estudos Ameríndios (CEstA) da USP. Com experiência etnográfica entre comunidades Guarani no estado de São Paulo e em instituições de saúde indígena, seu campo de pesquisa volta-se para cosmopolíticas e práticas de conhecimento de povos originários em contextos contemporâneos.

  • Bruno Huyer, Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional

    Antropólogo, atua desde 2019 vinculado à Superintendência do IPHAN na Bahia. Graduou-se em Ciências Sociais pela UFRGS e possui mestrado em Antropologia Social pela UFSC. Desenvolveu diversos trabalhos com os Mbya-Guarani do sul do Brasil e norte da Argentina. A partir de 2016 passou a colaborar com o projeto Vídeo nas Aldeias, participando de produções audiovisuais colaborativas com diferentes povos indígenas espalhados pelo Brasil. Atualmente, segue colaborando com pesquisas em antropologia, etnologia indígena, saúde, além de produções audiovisuais.

  • Kuaray Poty Ariel Ortega, Associação Consciência Guarani

    Artesão, cineasta e pensador Mbyá-guarani, se dedica ao cinema desde 2007, quando foi diretor do filme Mokoi Tekoa, Petei Jeguata (Duas aldeias, uma caminhada), vencedor do ForumDoc BH de 2008. Depois disso dirigiu outros filmes também premiados como Bicicletas de Nhanderu (2011), Desterro Guarani (2011), Tava, a casa de pedra (2012), Mbya Mirim (2013), e No caminho com Mário (2014). Atualmente mora na Tekoa Koe'ju, em São Miguel das Missões, Brasil, onde desenvolve trabalho de recuperação de áreas florestais degradadas junto ao Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e à Associação Consciência Guarani e integra os Coletivos Mbyá-guarani de Cinema e Ará Pyau de Cine (Argentina).

  • Maria Paula Prates, University of Oxford

    Maria Paula Prates é antropóloga, professora e pesquisadora no Reino Unido, atualmente vinculada à School of Anthropology & Museum Ethnography da Universidade de Oxford. É também professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS). Tem experiência na condução de pesquisa etnográfica entre coletivos guarani no Brasil Meridional e atua na intersecção entre etnologia indígena e antropologia da saúde.

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Publicado

2023-10-04

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Macedo, V. M., Huyer, B., Ortega, K. P. A., & Prates, M. P. (2023). Interpelações do vento. Reflexões guarani mbya sobre distanciamento e vulnerabilidade durante e além da pandemia. Revista De Antropologia, 66, e203189. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.203189