As Necrópoles e o Concreto Armado: reflexões antropológicas e históricas sobre os apartheids em Brasília e Joanesburgo
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2023.203900Palavras-chave:
racismo;, apartheid, evento, cotidiano, NegrocenoResumo
Este artigo compara o desenvolvimento das cidades de Brasília (Brasil) e Joanesburgo (África do Sul) pela análise dos dualismos evento/cotidiano; vida e não/vida. A partir de uma metodologia histórica e à luz das teorias antropológicas, indicamos como a constituição desses dois espaços do apartheid, esses eventos e cotidianos, se relacionam pelas concretizações das utopias eugenistas que reificam pessoas já racializadas na colonização. Pessoas que continuam tendo uma função dúbia de objeto e abjeto. Assim, apontamos o cimento como ator da tecnosfera no Negroceno (FERDINAND, 2021) e, no cálculo de sua transformação em concreto, vemos como são indispensáveis as pessoas (as vidas) lidas pelo capitalismo/colonialismo como commodities (não-vida), extraídas dos resíduos dos arranjos políticos coloniais. Por fim, conceituando as cidades modernas como necrópoles, apontamos como as soluções ao colonialismo podem residir em experiências de biointeração (SANTOS, 2015) e em visões distintas do que seja corpo e espaço.
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