"Pra mim, tradicional mesmo é gaúcho, é CTG": traições etnográficas, violência epistêmica e silenciamento na visibilização da fala perita

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DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.220284

Palavras-chave:

unidades de conservação, povos e comunidades tradicionais, violência epistêmica, pesquisadores, traição etnográfica

Resumo

A discussão sobre unidades de conservação e populações locais atingidas pela sua criação tem sido bastante controversa. Ciente disso, por quatro anos mantive contato com 33 pesquisadores que, transitando entre a ciência e política, se tornaram influentes na concepção deste tipo de política ambiental. Contudo, escolhê-los como nativos trouxe um questionamento que ultrapassa a publicação da pesquisa, pois, entre quem viraria assunto de nossas conversas estavam grupos que sofrem com restrições impostas por esta forma de controle do território. O que me levou a indagar: ao restringir o debate ao que cientistas teriam a dizer, não teria invisibilizado quem já tem poucas condições de acessar instâncias onde são pensadas políticas ambientais, reproduzindo um tipo de violência epistêmica neocolonial de viés acadêmico? Partindo desta possibilidade incômoda, tomo a escolha que fiz como fato etnográfico para refletir sobre as condições de produção do discurso científico quando este leva ao silenciamento do outro.

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Publicado

2025-07-14

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Gerhardt, C. (2025). "Pra mim, tradicional mesmo é gaúcho, é CTG": traições etnográficas, violência epistêmica e silenciamento na visibilização da fala perita. Revista De Antropologia, 68. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.220284