A denúncia do racismo e a contestação da democracia racial pela imprensa negra nos primórdios do futebol paulistano
DOI:
https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2022.203557Palavras-chave:
Discriminação racial, Mídia, EsporteResumo
A Imprensa Negra surgiu em São Paulo nos primeiros anos do Século XX como um coletivo que abordava a questão racial em seu contexto econômico, político e cultural. Tais veículos provocaram o debate através das discussões sobre a estrutura de poder, os modelos de organização social e cultural e as formas de reconhecimento e status ao descortinarem as tentativas de negação destas iniquidades sociais. Diante desta constatação, o objetivo deste artigo é analisar a denúncia de episódios de discriminação racial e a contestação do mito identitário de democracia racial no futebol paulistano do início do Século XX através das publicações da Imprensa Negra. Como fonte utilizamos seus jornais disponibilizados nos microfilmes da Biblioteca Nacional. Após lermos as matérias que tematizavam o esporte, selecionamos duas que se ocuparam de repercutir o preconceito e a discriminação racial no futebol paulistano naquele contexto. No período analisado, podemos observar que no futebol de São Paulo ocorria a inclusão em determinados espaços e exclusão em outros, o que impedia a efetivação de relações democratizadas e proporcionava a reprodução das contradições do racismo na sociedade. Concluiu-se que havia tensão entre a coexistência da denúncia do racismo e o louvor da democracia racial nos primórdios do futebol de São Paulo.
Downloads
Referências
ABRAHÃO, B. O. de L. O “Preconceito de Marca” e a ambiguidade do “racismo à brasileira” a partir do futebol. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho - Programa de Pós-Graduação em Educação Física: Tese de Doutorado, 2010.
ABRAHÃO, B. O. de L.; SOARES, A. J. G. A imprensa negra e o futebol em São Paulo no início do século XX. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. v. 26, n. 1, p. 63-76, 2012. DOI:10.1590/S1807-55092012000100007
ANDREWS, G. R. Negros e brancos em São Paulo (1888 – 1988). Bauru: Edusc, 1998.
ANTUNES, F. M. R. F. Futebol de fábrica em São Paulo. 1992. 190 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
BASTIDE, R.; FERNANDES, F. Brancos e negros em São Paulo: ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana. 4ª Edição. São Paulo: Global, 2008.
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
FRANZINI, F. Corações na ponta da chuteira: capítulos iniciais da história do futebol brasileiro (1919-1938). Rio de Janeiro: DP&A editora, 2003.
GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito de cor e racismo no Brasil. Revista de Antropologia, v. 47. p. 9-43. 2004. DOI: 10.1590/S0034-77012004000100001
HASENBALG, C. Entre o mito e os fatos: racismo e relações raciais no Brasil. In: MAIO, M. C.; SANTOS, R. V. (Orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996. p. 235-249.
JESUS, G. M. de. Futbol y Modernidad en Brasil: la geografía historica de una novedad. In: Lecturas: Educación Física y Deporte, num. 10, año III, Buenos Aires, 1998.
LEVINE, R. M. Esporte e Sociedade: o caso do futebol brasileiro. In.: Meihy, J. C. S. (Org.). Futebol e cultura: coletânea de estudos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1982. p. 21-44
MAZZONI, T. História do futebol brasileiro. São Paulo: Olimpicus, 1950.
MUNANGA. K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
NOGUEIRA, O. Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
PIRES, A. L. C. S. As “Associações dos Homens de Cor” e a Imprensa Negra Paulista: Movimentos Negros, Cultura e Política no Brasil Republicano (1915 – 1945). Belo Horizonte: Editora Gráfica Daliana, 2006.
RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Mauad, 1947.
ROSENFELD. A. Negro, macumba e futebol.São Paulo: Edusp, 1993.
SANSONE, L. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra no Brasil. Salvador: Edufba/Pallas, 2007.
SCHWARCZ, L. M. Retrato em branco e preto – jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SCHWARCZ, L. M. Nem preto, nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade. In: NOVAES, F. A.; SCHWARCZ, L. M. (Orgs.) História da vida privada no Brasil. v. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SILVA, A. P. da. Pelé e o complexo de vira-latas: discursos sobre raça e modernidade no Brasil. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2008.
SKIDMORE, T. Preto no Branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
SKIDMORE, T. O Brasil visto de fora. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
SOARES, A. J. G. Futebol, raça e nacionalidade – releitura da história oficial. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho - Programa de Pós-Graduação em Educação Física (tese de doutorado), 1998.
TELLES, E. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.
WISNIK, J. M. Veneno Remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Bruno Otávio de Lacerda Abrahão, George Roque Braga Oliveira, Antonio Jorge Gonçalves Soares
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution BY-NC-SA que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista. A licença adotada enquadra-se no padrão CC-BY-NC-SA.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).