Fitogeografia da Caatinga no núcleo de desertificação do Seridó (Brasil)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2024.205638

Palavras-chave:

Biogeografia, Semiárido, Fitossociologia, Vegetação

Resumo

As formações vegetais da Caatinga são notavelmente diversas, superando outras florestas sazonalmente secas da América do Sul, com várias fácies fitogeográficas influenciadas pela distribuição, abundância e relação das espécies com os fatores ambientais. Este estudo visa identificar possíveis padrões fitogeográficos da Caatinga na região do Seridó potiguar, um núcleo de desertificação no Brasil, analisando a possível correlação com a diversidade de seus sistemas geoambientais. A pesquisa baseia-se no conceito de Paisagem e no método de análise fitossociológica proposto por Rodal, Sampaio e Figueiredo (2013) para o bioma da Caatinga. Os parâmetros fitossociológicos analisados incluem densidade (D), frequência (Fr), dominância (Dm) e índices de valor de importância (VI), além da diversidade hierárquica pelo índice de Shannon (H’) e de similaridade florística pelo Índice de Jaccard (IJ). Entre as espécies lenhosas mais abundantes destacam-se a Catingueira (Cenostigma pyramidale (Tul.) E. Gagnon & G.P. Lewis), Marmeleiro (Croton blanchetianus Baill.), Pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart. & Zucc.) e Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.). Os índices de diversidade Shannon (H' = 1,31 a 2,48) e Simpson (1-D = 0,64 a 0,89) revelaram maior riqueza florística nas áreas serranas, como o Maciço Residual da Formiga (2,48 H’ e 0,89 1-D) e o Planalto da Borborema (2,86 H’ e 0,87 1-D), enquanto o índice de similaridade de Jaccard indicou maior semelhança entre pontos dentro do mesmo sistema geoambiental, sugerindo que condições similares favorecem a similaridade florística. A densidade fitogeográfica variou entre 0,007 e 0,034 ao longo do transecto florístico analisado. Esses dados são fundamentais para direcionar esforços de conservação em regiões afetadas pela desertificação. No Seridó potiguar, observa-se um padrão fitogeográfico curioso com distintas fácies de caatingas, refletindo os sistemas geoambientais e a degradação ambiental.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ABBADIE, L.; et al.: Lamto: Structure, Functioning, and Dynamics of a Savanna Ecosystem, Ecological Studies. v. 179, 2006. 415 p.

ALBUQUERQUE, S. G.; SOARES, J. G. G.; ARAÚJO-FILHO, J. A. Densidade de espécies arbóreas e arbustivas em vegetação de Caatinga. Petrolina: Embrapa. 1982.

AMORIM, I. L. de; SAMPAIO, E. V. S. B.; ARAÚJO, E. de L. Flora and structure of the tree and shrub vegetation of the caatinga at Seridó, Rio Grande do Norte State, Brazil. Acta Botânica Brasílica. Porto Alegre, v.19, n. 3, p. 615-623, 2005.

ANDRADE-LIMA, D. Present day forest refuges in Northeastern Brazil. In: PRANCE, G.T. (ed.). Biological Diversification in the Tropics. New York: Columbia University Press, 1982, p. 245-254.

ANDRADE-LIMA, D. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica. v.4: 149-163. 1981.

ATMAR W.; PATTERSON B. D. - The measure of order and disorder in the distribution of species in fragmented habitat. Oecologia, v. 96: 373-382. 1993.

BARTH, Hans-Jörg. Desertification in the eastern province of Saudi Arabia. Journal of Arid Environments, v. 43, n. 4, p. 399-410, 1999.

CAVALCANTI, Cartografia de Paisagens. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.

CROIZAT, L. Space, time, form: The biological synthesis. Caracas: editado pelo autor, 1964.

DELITI, W. B. C. Ciclagem de nutrientes minerais em matas ciliares. In: LACERDA, A. V.; BARBOSA, F. M. Matas Ciliares no domínio das Caatingas. João Pessoa: Editora Universitário/UFPB, 2006.

DUQUE, J. G. Solo e água no polígono das secas. Fortaleza: DNOCS, 3ª ed, 1953.

ELLENBERG, H.; D. MUELLER-DOMBOIS. Tentative physiognomic ecological classification of plant formations of the earth. Bericht des Geobotanischen Instituts der ETH, Stiftung Rübel in Zürich, v.37, p. 21-55, 1967.

FENSHAM, R. J.; FAIRFAX, R. J.; WARD, D. P. Drought‐induced tree death in savanna. Global Change Biology, v. 15, n. 2, p. 380-387, 2009.

FORMAN, R. T. T. Land mosaics: the ecology of landscape and regions.

London: Cambridge University Press, 1999.

GALINDO, I. C. de L. et al. Relações solo-vegetação em áreas sob processo de desertificação no município de Jataúba, PE. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 32, p. 1283-1296, 2008.

GIULIETTI, A. M. et al. Espécies endêmicas da Caatinga. In: SAMPAIO, E. V. S. B. et al. Vegetação e Flora da Caatinga. Eds. Associação Plantas do Nordeste, Recife, 2002.

GONZALEZ, P. Desertification and a shift of forest species in the West African Sahel. Climate research, v. 17, n. 2, p. 217-228, 2001.

GONZALEZ, P.; TUCKER, C. J.; SY, H. Tree density and species decline in the African Sahel attributable to climate. Journal of Arid Environments, v. 78, p. 55-64, 2012.

HILL, M. J.; ROMÁN, M. O.; SCHAAF, C. B. Biogeography and dynamics of global tropical and subtropical savannas: a spatiotemporal view. In: HILL, M. J.; HANAN, N. P. (Ed.). Ecosystem function in savannas: Measurement and modeling at landscape to global scales. CRC Press, 2010.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Plano de Manejo Florestal para a Região do Seridó-RN. Natal: Projeto PNUD/FAO/IBAMA/BRA/87/007, v. 1, 1988.

KELLY, R. D.; WALKER, B. H. The effects of different forms of land use on the ecology of a semi-arid region in south-eastern Rhodesia. The Journal of Ecology, p. 553-576, 1976.

LIMA, W. P. Função hidrológica da mata ciliar. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989, p. 25-42.

LUETZELBURG, P. V. Estudo Botânico do Nordeste. Inspetoria Federal de Obras Contra as Seccas, Ministério da Viação e Obras Públicas, Publicação 57, Série I, A, Rio de Janeiro, 1922-23.

MAIA, G. N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo: D&Z Computação Gráfica e Editora, 2ed, 2012.

MARTINS, F. R. Esboço histórico da fitossociologia florestal no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BOTÂNICA, Brasília. Anais... Brasília, 1990, p. 33-58.

MEDEIROS, A. V. S. et al. Phytosociology of an open arboreal caatinga with high basal area in the Seridó desertification region, Brazil. Revista Caatinga, v. 36, p. 601-611, 2023.

MORRONE, J. J. Evolutionary Biogeography: An integrative approach with case studies. New York: Columbia University Press, 2009.

MUELLER, C. C. Gestão de matas ciliares. In: I. V. Lopes (org.). Gestão Ambiental no Brasil: experiência e sucesso. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, p. 185-214, 1998.

MUELLER-DOMBOIS D; ELLENBERG H. Aims and methods of vegetation ecology. New York: John Wiley & Sons; 1974.

ODUM, E. Fundamentos de Ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian, 6ª ed. 2004.

OLIVEIRA FILHO, JARENKOW; RODAL, Floristic relationships of seasonally dry forests of Eastern South America based on tree species distribution patters. In: PENNINGTON, R. T.; LEWIS, G. P.; RATTER, J. A. Neotropical Savannas and Seasonally Dry Forests: plant diversity, biogeography and conservation, 2006.

OLIVEIRA-FILHO, A. T.; JARENKOW, J. A.; RODAL, M. J. N. Floristic relationships of seasonally dry forests of eastern South America based on tree species distribution patterns. In: PENNINGTON, R. T.; LEWIS, G. P.; RATTER, J. A. (Org.). Neotropical savannas and dry forests: Plant diversity, biogeography and conservation. Boca Raton: CRC Press2006, p. 151-184.

PENNINGTON, R. T., PRADO, DE.; PENDRY, C. A. Neotropical seasonally dry forests and Quaternary vegetation changes. Journal of Biogeography. v. 27, n. 2, p. 261-273, 2000.

PENNINGTON, R. T.; LEWIS, G. P; RATTER, J. A. Neotropical savannas and seasonally dry forests: plant diversity, biogeography and conservation. Taylor e Francis Group: systematics association special volumes, n.29, 2006.

PEREIRA NETO, M. C. Solos e paisagens no núcleo de desertificação do Seridó potiguar – Brasil. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 24, n. 96, p. 305–317, 2023. DOI: 10.14393/RCG249668997. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/68997. Acesso em: 28 abr. 2024.

PEREIRA NETO, M. C.; OLIVEIRA, D. V.; SILVA, J. V. Os refúgios da biodiversidade no Seridó potiguar - Brasil, frente a instalação de parques eólicos. Revista GeoInterações, [S. l.], v. 8, n. 1, 2024. DOI: 10.59776/2526-3889.2024.5587. Disponível em: https://periodicos.apps.uern.br/index.php/RGI/article/view/5587. Acesso em: 28 abr. 2024.

PEREIRA NETO, M. C; FERNANDES, E. Fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do Rio Seridó (RN/PB – Brasil). Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.16, n.3, p.399-411, 2015.

PEREIRA NETO, M. C; FERNANDES, E.; LINHARES SALES, M. C. Unidades geoambientais do Seridó potiguar: bases para o planejamento natural do território. Revista Geonorte, v. 14, n. 45, 2023. https://doi.org/10.21170/geonorte.2023.v.14.N.45.55.74.

PEREIRA NETO, M. C; SILVA, N. M. Relevos residuais (maciços, inselbergues e cristas) como refúgios da biodiversidade no Seridó potiguar. Revista Geonorte, edição especial, v.1, n.4, p. 262 – 273, 2012.

PEREIRA NETO, M. C. Perspectivas da açudagem no semiárido brasileiro e suas implicações na região do Seridó Potiguar. Revista Sociedade & Natureza, v.29, n.2, 2017, 285–294. https://doi.org/10.14393/SN-v29n2-2017-7

PIELOU, E. C. Ecological diversity. New York: Wiley, 1975. 165 p.

POREMBSKI, S. Tropical inselbergs: Habitat types, adaptive strategies and diversity patterns. Revista Brasileira de Botânica. v.30, n. 4, 579-586. 2007.

POREMBSKI, S.; BARTHLOTT, W. Inselbergs: Biotic diversity of isolated rock outcrops in tropical and temperate regions. Berlin: Springer-Verlag, 524pp, 2000.

PRADO, D. E. As caatingas da América do Sul. In: LEAL, I; TABARELLI, M; SILVA, J.M.C, Ecologia e Biogeografia da Caatinga. Universidade Federal de Pernambuco, CNPq, 2003, p.3-73.

PRADO, D. E. Seasonally dry forests of tropical South America: from forgotten ecosystems to a new phytogeographic unit. Edinburgh, Journal of Botany v.57, 2000.

QUEIROZ, L. S.; PEREIRA NETO, M. C.; MEDEIROS, J. F. DE. Perfis Geoecológicos do Complexo Serrano Martins-Portalegre – RN: base (geo)morfológica para análise da paisagem. Boletim de Geografia, v. 39, p. 118-128, 2021.

RIZZINI, C. T. Nota prévia sobre a divisão fitogeográfica do Brasil. Revista Brasileira de Geografia, v. 25: 3-64. 1963.

RIZZINI, C. T. Tratado de Fitogeografia do Brasil. São Paulo: Editora Hucitec,

Universidade de São Paulo. 1979.

RODAL, M. J. N. Fitossociologia da vegetação arbustiva-arbórea em quatro áreas de caatinga em Pernambuco. Tese de Doutorado. Universidade de Campinas, Campinas. 1992.

RODAL, M. J. N.; SAMPAIO, E. V. S. B.; FIGUEIREDO, M. A. Manual sobre métodos de estudos florístico e fitossociológico: ecossistema caatinga. Brasília: SBB, 2013. 24p.

RODAL, M. J. N; NASCIMENTO, L. M. Levantamento florístico de uma floresta serrana da reserva biológica de Serra Negra, microrregião de Itaparica, Pernambuco, Brasil, Acta Botanica Brasilica, v. 16, 481, 2002.

RODAL, M. J. N.; ARAÚJO, FS de; BARBOSA, M. R. V. Vegetação e flora em áreas prioritárias para conservação da Caatinga. In: ARAÚJO, F. S.; RODAL, M. J. N.; BARBOSA, M. R. DE V.. Análise das variações da biodiversidade do bioma Caatinga: suporte a estratégias regionais de conservação. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, p. 81-90, 2005.

SAMPAIO, E. V. S. B. Caracterização da caatinga e fatores ambientais que afetam a ecologia das plantas lenhosas. In: SALES, V. C. (org.). Ecossistemas brasileiros: manejo e conservação. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora. 2003, p. 129-142.

SAMPAIO, E. V. S. B., D. ANDRADE-LIMA & M. A. FIGUEIREDO GOMES. 1981. O gradiente vegetacional das caatingas e áreas anexas. Revista Brasileira de Botânica 4: 27-30

SANTANA, J. A. S.; SOUTO, J. S. Diversidade e estrutura fitossociológica da caatinga na estação ecológica do Seridó-RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra. v. 6, n. 2, 2006.

SCHIMPER, A. F. W. Plant geography upon a physiological basis.

Clarendon Press, Oxford, 1903.

SCHLUTER, R. E.; RICKLEFS, D. Species Diversity: An introduction to the problem. In: RICKLEFS, R. E.; SCHLUTER, D. (org.) Species Diversity in Ecological Communities. Historical and Geographical Perspectives. Chicago: The University of Chicago Press, 1993.

SILVA, P. A.; et al. Mapeamento de riscos de salinização na Bacia do Rio São Francisco. Brasília: CODEVASF, 1993.

SILVA, R. A.; SANTOS, A. M. M. S.; TABARELLI, M. Riqueza e diversidade de plantas lenhosas em cinco unidades de paisagem da caatinga. In: LEAL; I. R.; TABARELLI, M; SILVA, J. M. C. da. Ecologia e conservação da caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003.

SOUSA, B. I.; ARTIGAS, R. C.; LIMA, E. R. V. Caatinga e desertificação. Revista Mercator, Fortaleza, v. 14, p. 131-150, 2015.

VELOSO, H. P. Os grandes clímaces do Brasil: considerações gerais sobre a vegetação da região Nordeste. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 62, 1964.

VELOSO, H. P.; A. L. R. RANGEL-FILHO. J. C. A. LIMA. Classificação da Vegetação Brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE, 1992.

Downloads

Publicado

2024-05-28

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Pereira Neto, M. C. (2024). Fitogeografia da Caatinga no núcleo de desertificação do Seridó (Brasil). Revista Do Departamento De Geografia, 44, e205638 . https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2024.205638