A espacialidade da rua
o caso da Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Sul de Minas, em Alfenas
DOI:
https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2025.226012Palavras-chave:
Movimento LGBTI+, Cidades médias, Espaço geográfico, CotidianoResumo
A rua permite que diferentes trajetórias se intersectem no transcurso do cotidiano. Quando sujeitos e coletivos tomam as ruas como forma de festa e reivindicação, a espacialidade do fenômeno rompe com o ordinário e o programado. A rua torna-se a plataforma e o instrumento da ação política. Neste sentido, este artigo se ocupa em discutir o uso da rua por meio da realização da Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Sul de Minas, em Alfenas, localizada na porção sul/sudoeste de Minas Gerais. A hipótese de trabalho é que a apropriação da rua pela Parada faz emergir a contradição entre valor de uso e valor de troca, pois, mesmo ancoradas em relações político-econômicas, cria as condições de possibilidade de uma apropriação inventiva baseada nas expressões de gênero e sexualidade, rechaçadas do alto circuito econômico. Na medida em que as paradas funcionam, é estabelecido o ritual social por meio de seus elementos constitutivos: a escolha do lugar de aglomeração, o percurso do acontecimento e o lugar de dispersão. Para tanto, o artigo está pautado numa perspectiva lefebvreviana, na qual a humanidade é produto e produtora de sua própria obra: a cidade. Os resultados indicam que o uso da rua pela parada requalifica o urbano na medida em que ela é apropriada pela coletividade, por meio de seus corpos e símbolos, em prol de um conjunto de reivindicações materiais e condições dignas de vida.
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