A biologia reprodutiva do peixe Tabarana (Salminus hilarii)
A tabarana (Salminus hilarii), uma espécie de peixe carnívora (piscívora) migradora (peixe de piracema - que precisa, em um determinado período do ciclo reprodutivo, subir até as cabeceiras dos rios para a reprodução) de porte médio, voraz e com uma série de dentes cônicos e pontiagudos, distribui-se nos rios das bacias do Alto Paraná, São Francisco, Tocantins e Alto Amazonas e Alto Orinoco. Esse peixe também já foi encontrado abundantemente no Rio Tietê – entretanto, devido à poluição industrial, ao esgoto sem tratamento e a presença de barragens, a espécie está, nesse rio e em seus tributários, confinada a alguns quilômetros. Em vista disso, nasce uma profunda necessidade de elucidar a biologia desse peixe em busca de alternativas para a conservação da espécie. É do que trata o artigo “Dinâmica da maturação testicular durante o ciclo reprodutivo de Salminus hilarii (Teleostei, Characidae) em ambiente natural”, desenvolvido por Honji e colaboradores, que explorou a biologia reprodutiva desses peixes para oferecer pistas ao manejo do S. hilarii em cativeiro, até então dificultado por problemas de disfunção reprodutiva (fêmeas tendem a não se reproduzir em cativeiro), com vistas ao repovoamento desses animais em seu ambiente natural.
No estudo, capturou-se via pesca artesanal (vara e isca viva), entre os meses de abril de 2004 e outubro de 2005 (considerou-se o período reprodutivo), os machos em seu ambiente natural (autorizado pelo IBAMA – Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Levando-os ao laboratório, foram coletados dados como sangue e hormônios, comprimento total, massa corporal e a conformação fisiológica e morfológica dos testículos.
Elucidou-se, com o estudo, que as fêmeas possuem tamanhos e massas maiores do que os machos e que estes, quando em período de reprodução, tendem a apresentar como característica sexual secundária e temporária a nadadeira anal áspera – o que, supõe-se, pode ser utilizado para selecionar aqueles aptos para a reprodução em cativeiro. Os andrógenos (T e 11-KT), nesses peixes, são os hormônios que estimulam o aparecimento de caracteres secundários nos machos, influenciando no comportamento reprodutivo e diferenciação sexual. Outro hormônio, como o E2 e o 17-OHP, em comum ao T, 11-KT, foram relatados como participantes no processo de diferenciação sexual e maturação gonodal do ciclo reprodutivo desta espécie, inclusive refletindo modificações na histologia testicular desses peixes.
Vale destacar que os testículos da espécie S. hilarii passam pelos estágios pré-espermatogênico (em maturação), espermatogênico (em reprodução) e regressão (período não reprodutivo). No estudo, a análise dos dados indicou a presença de machos em estágio de regressão ambiental, sugerindo-se que as alterações ambientais nas águas do Rio Tietê (por exemplo, baixa qualidade da água, presença de poluentes, etc) afetam o ciclo reprodutivo dessa espécie de peixe, reduzindo de forma relevante sua população. Sendo assim, a pesquisa ajuda a melhorar o manejo dessa espécie em cativeiro fornecendo dados para o programa de repovoamento desta espécie na Bacia do Alto Rio Tietê e seus afluentes. Há, entretanto, a necessidade, inclusive conclamada pelos autores, de que mais estudos devem ser realizados para melhor elucidar a biologia da espécie S. hilarii com vistas a possibilitar uma conservação desses peixes.
Por Carolina Guimarães de Mattos
Bióloga, redatora e mestra em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde.